O IMPERIALISMO NA PRÁTICA

O conceito abstrato de imperialismo foi desnudado e tornou-se transparente com a guerra Estados Unidos versus Rússia, travada no campo de batalha da Ucrânia, e, agora, podemos descrevê-lo de forma didática, sintética e objetiva. Mas, como dizia Jack, o estripador, vamos por partes.

Imperialismo é o exercício do poder político, econômico e militar que uma nação líder exerce sobre as demais nações do globo. Essa nação líder conta quase sempre com o apoio irrestrito de um pequeno grupo de nações que se beneficiam com as diretrizes gerais da política econômica e militar da nação hegemônica.

Atualmente, das 193 nações que integram a ONU, apenas sete comporiam o núcleo do imperialismo atual: Estados Unidos, a líder do grupo, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Canadá e Japão. As demais nações da Comunidade Europeia também apoiariam sem muita restrição a política do imperialismo estadunidense.

Mas o que é esse poder e como ele é exercido e por que esse pequeno grupo de nações constituem o núcleo do imperialismo?

Poder Econômico

Os homens, para sobreviver, necessitam de meios-de-produção e de recursos naturais. As nações do rol imperialista contam com esses meios materiais de produção altamente desenvolvidos para suprir suas necessidades humanas, muito mais do que a imensa maioria dos demais países. Vejamos, a seguir, como se processa essa produção material. 

Atualmente, a produção industrial se realiza por meio de extensas cadeias produtivas que perpassam quase todas as nações. Assim, um automóvel constituído por cerca de 5 mil peças traz como reboque inúmeras cadeias produtivas que se estendem dos minérios, fundição, laminação, diferentes máquinas e equipamentos para o motor e as peças; a borracha e outras matérias-primas e insumos derivados da Petroquímica; da Eletrônica; dos cabos, vidros e tantas outras parafernálias. A BMW europeia, por exemplo, está paralisada, atualmente, por falta de acessórios produzidos na Rússia. De igual maneira, outros produtos industriais diferentes do automobilismo integram o imenso parque industrial mundial. E, assim, também para a produção de alimentos. Sem o fosfato, a cana-de-açúcar não produziria açúcar; sem pesquisa genética não teríamos a variedade e qualidade dos produtos agrícolas que consumimos atualmente. Igualmente para a Pecuária e, assim, sucessivamente para as demais áreas da atividade humana.

As Corporações

Atualmente o poder econômico do imperialismo é constituído por corporações econômicas. (...) As corporações, assim como as pessoas que as compõem, possuem também uma identidade orgânica capaz de alterar e influenciar a sociedade na qual estão inseridas. Possuem contatos, formam alianças e desenham estratégias capazes de redefinir os processos políticos e as diretrizes econômicas do sistema na qual estão inseridas na busca de seus interesses (dados na Wikipédia).

(...) Podemos dizer, então, que as corporações se unem em laços particulares, que são definidos como relações para explorar oportunidades de mercado ou para influenciar determinadas decisões de interesse (Wikipédia). Na realidade, acrescento eu, as corporações são a face visível do fim da etapa capitalista da livre concorrência.

Os oligopólios privados, os monopólios estatais são formas de corporações. Segundo a Oxfam (Comitê de Oxford para Alívio da Fome), há, atualmente, cerca de 700 corporações que respondem por cerca de 70% do PIB mundial. Em cada setor industrial, comercial ou de serviços há sempre um pequeno grupo de corporações que expressam o poder político de uma nação.


Exemplos de algumas grandes empresas com laços mundiais: Shell, Esso, Vale mineração, Coca Cola, Pepsi, Unilever, Mc Donald's, Nestlé, Nike, Adidas, Puma, BMW, Volkswagen, General Motors, Toyota, Nokia, Sony, Siemens, Peugeot, Vivo, Walmart, Amazon, Apple, CVS Health, Grupo UnitedHealth, Microsoft, Saudi Aramco, Alphabet, Facebook, Tencent Holdings, Tesla, Grupo Alibaba, Berkshire, Hathaway, Taiwan Semiconductor, Samsung Electronics, Visa, JPMorgan, Chase, Johnson & Johnson, NVIDIA, KweichowMoutai, Mastercard etc. Consulte a lista completa das cem maiores empresas, junto à Internet.

Além do domínio econômico dessas corporações, há ainda um sistema de cooptação dos consumidores de seus produtos. Cito, por exemplo, um vídeo de um jovem que se algemou à porta do Mc Donald’s de Moscou, em protesto pelo fechamento daquele Fastfood. Os meios televisivos, como sabemos, são muito usados no processo de cooptação dos consumidores. Cito o exemplo do agronegócio brasileiro quando diz: o Agro é pop; o Agro é tech; o Agro é tudo; mas esconde que o Agro é tóxico; que desmata; que polui córregos e rios; que contribui para a queima dos biomas e a extinção de milhares de espécies animais; enfim, que explora o trabalho alheio, o trabalhador rural, que tudo produz. E se o proletariado tudo produz a ele tudo pertence.

Financeirização da economia

Outra face do poder econômico é a financeirização da economia que consiste em apostas de mercado, títulos, ações, seguros etc. Segundo alguns dados, o capital financeiro especulativo, por exemplo, que gira nos diversos fundos do mercado internacional (imobiliário, seguros, pensão, moedas virtuais etc.) supera várias vezes o valor do PIB mundial, estabelecendo, assim, a chamada Era do Capital Improdutivo.

Essas aplicações com lastro fictício ou superavaliado no mercado financeiro mundial criaram, por exemplo, a bolha imobiliária de 2008, levando à moratória o Lehman Brothers, um dos quatro maiores bancos estadunidenses, com repercussão em várias praças financeiras mundiais.  Muitos bancos e fundos de pensão tinham negócios com esse banco ou com firmas como fundos de hedge que operavam exclusivamente com o banco.

O colapso dramático do Lehman Brothers também abalou as bolsas, com preços de ações despencando em todo o mundo, obrigando a intervenção dos governos nacionais a bancarem as perdas do mercado, o que ocasionou elevados custos em seus déficits públicos.  A partir daí, a dívida interna de muitas nações supera em muito o valor de seus respectivos PIB’s. A repercussão política dessa crise deixou sua marca em muitos países contribuindo inclusive para a queda de governos, a exemplo do ucraniano, 2014, e do Brasil, 2016. Maiores detalhes sobre o assunto, consulte o texto Brasil 2019, no site indicado no final deste texto.

O Poder de Estado

Afinal, como o poder econômico se impõe no mercado mundial? Aqui vamos conceituar ligeiramente o que é o Estado, pois é por meio dele que o poder econômico é exercido.

ESTADO: Podemos entendê-lo como o centro da instância jurídico-política de uma sociedade, parte constituinte da superestrutura social. Cabe, pois, a ele definir o que é público e o que é privado. O jurídico é o político legalizado (as leis), enquanto o político propriamente dito é o espaço das lutas pelo poder, onde as classes sociais colocam para a sociedade seus projetos de vida.

As principais funções do Estado são: dominação de classe, administração da coisa pública e prestação de serviços públicos. Numa sociedade de classes, o Estado estará sempre a serviço da classe dominante. No capitalismo, por exemplo, a burguesia detém o poder de Estado, poder de impor o capitalismo como modo de produção para toda a sociedade. É por meio do Estado que uma classe social exerce seu poder político de dominação sobre as demais classes. No modo de produção comunista, onde não há dominação de classes, o Estado se extingue.

Para entendermos melhor a materialidade do Estado, podemos pensá-lo como constituído por uma série de aparelhos, tais como: aparelhos repressores e aparelhos burocráticos e de serviços.

I)  Aparelhos repressores de Estado: aqueles que exercem a violência teoricamente legitimada. Constituem-se em forças armadas, a polícia, o sistema penitenciário. O judiciário é, ao mesmo tempo, normativo e coercitivo, pois detrás do carrasco há o juiz.

II) Aparelhos de Estado burocráticos e de serviços: aqueles que exercem atividades públicas de legislação, administração e prestação de serviços. São eles:

a) O Legislativo é um dos poderes da nação e, como tal, integra o aparelho de Estado. Cabe a ele elaborar leis, as quais dispõem sobre o ordenamento dos diferentes interesses sociais e sobre a ordem pública; ele tem poderes para: emendar, aprovar ou rejeitar o orçamento do governo, bem como outros projetos do Executivo; pode fiscalizar o Executivo e até puni-lo com a perda de seu mandato.

b) Judiciário: guardião das Leis, decidindo pela sua constitucionalidade (função normativa) e assegurando o seu cumprimento (função coercitiva);

c) Executivo: viabiliza a administração pública por meio dos ministérios, das secretarias de Estado, órgãos públicos diversos e, em certos casos, de empresas. Esses organismos contam com um exército de funcionários públicos, responsáveis pela implementação das medidas administrativas do Executivo. Os serviços ligados mais diretamente à população são oferecidos pela rede pública, tais como: de saúde, de ensino etc.

GOVERNO: grupo político que controla o aparelho de Estado no momento atual. O grupo político geralmente é representado por um partido político, isoladamente, ou em aliança com outros partidos políticos, que por sua vez são expressões de classes, frações de classes, grupos profissionais. O governo assim entendido é exercido pelo Executivo (presidente) em consonância quase sempre com o Legislativo. O presidente seria o gestor do governo, isto é, o representante do grupo político cujos interesses gerais ele defende prioritariamente.

PODER DE ESTADO: não devemos confundir governo com poder. O poder de Estado está nas classes sociais, isto é, ou está com a burguesia ou com o proletariado. O poder não é um lugar, uma coisa, mas uma relação social de dominação de uma classe sobre outra. O Estado é a instância por meio da qual uma classe social exerce seu poder político de dominação sobre as demais classes. No comunismo, como não há classes, o poder é da coletividade.

O Poder da Burguesia nos Países Imperialistas

A burguesia do país imperialista é a classe social dominante e, portanto, estabelece a política interna e externa segundo o ditame de seus interesses de classe. Ela é dominante por deter a propriedade e a direção das corporações empresariais, isto é, do parque Industrial, da Agropecuária; das Finanças, do Comércio e dos Serviços. Para se ter uma ideia, o complexo industrial-militar estadunidense emprega direta e indiretamente cerca de 4 milhões de pessoas. O grande comprador do aparato bélico, as armas, é o próprio governo estadunidense e, de certa forma, é com esse poderio militar que eles intimidam o mundo.

Como esse poder estadunidense se estende para o mundo?

A hegemonia absoluta dos Estados Unidos se concretizou após a Segunda Guerra Mundial. Quem foram os grandes vencedores senão Estados Unidos e Reino Unido, por um lado, e a União Soviética, por outro? Quem liderou a reconstrução econômica da Europa? Os EUA, por meio do Plano Marshal, traduzido em investimentos maciços com base em sua moeda, o Dólar, a qual passa a ser considerada moeda de Reserva Mundial. A partir daí, os Estados Unidos emitiriam dólares acima do lastro real de valor de sua moeda, isto é, a quantidade de ouro do Tesouro americano. No final dos anos 1960 e começo de 1970, o governo francês (Charles de Gaulle), exigiu em ouro as reservas francesas que teriam nos Estados Unidos. Essa atitude contribuiu para a decadência do Dólar como moeda de reserva, gerando uma crise que se alastraria pelo mundo com a crise do petróleo, a partir do ano de 1974.

A crise decorrente do lastro ouro do Dólar foi aos poucos sendo contornada, a partir de uma proposta feita pelos estadunidenses à Arábia Saudita, no sentido de utilizar o petróleo como um novo lastro material para o Dólar, prometendo-lhe em troca todo apoio militar e tecnológico para que Arábia Saudita se tornasse a nação líder do Oriente Médio. A Arábia Saudita caiu no canto da sereia, pois tinha pendências territoriais com o Iêmen, rivalidade político-religiosa com o Irã e um grande desejo de se tornar a potência regional do Oriente Médio. Assim, foram criados os petrodólares, assegurando a continuidade da hegemonia da moeda estadunidense.

OTAN, Poderio Militar Estadunidense

Os Estados Unidos haviam lançado duas bombas nucleares sobre o Japão, ao final da Segunda Guerra Mundial (1945), e a partir daí, sua hegemonia também militar seria estabelecida, inclusive pela proibição dos países derrotados de manterem forças armadas de guerra. Esses países teriam apenas forças armadas para segurança interna. Ato seguinte, os Estados Unidos instalaram inúmeras bases militares nesses países e para legitimar sua força coercitiva mundial, criaram a OTAN, em 1949. Putin divulgou recentemente cerca de 150 intervenções e ameaças militares estadunidenses em vários países do mundo, comentando inclusive cada caso. Listei, abaixo, apenas as mais recentes, omitindo, contudo, os comentários e os milhões de mortos.


A seguir, as intervenções e ameaças militares mais recentes dos Estados Unidos no mundo: 1946: Irã; Iugoslávia; 1947: Uruguai; 1947-1949 – Grécia; 1948 – Alemanha; 1948-1949: China; 1948-1954 – Filipinas; 1950 - Puerto Rico; 1951-1953 – Coreia;  1953 – Irã; 1954 – Vietnam; 1954 – Guatemala; 1956 – Egito; 1958 – Líbano; 1958 – Iraque; 1958 – China; 1958 – Panamá; 1960-1975 – Vietnam; 1961 – Cuba; 1961 – Alemanha; 1962 – Laos; 1962 – Cuba; 1963 – Iraque; 1964 – Panamá; 1965 – Indonésia; 1965-1966 - República Dominicana; 1966-1967 – Guatemala; 1969-1975: Camboja; 1970 – Omã;  1971-1973 – Laos; 1973 – Oriente Médio; 1973 – Chile; 1975 – Camboja; 1976-1992 – Angola; 1980 – Irã; 1981 – Líbia; l981-1992 - El Salvador; 1981-1990 – Nicarágua; 1982-1984 – Líbano; 1983-1984 – Granada; 1983-1989 – Honduras; 1984 – Irã; 1986 – Líbia; 1986 – Bolívia; 1987-1988: Irã; 1989 – Líbia; 1989 – Ilhas Virgens;  1989 – Filipinas; 1989 – Panamá; 1990 – Libéria; 1990-1991 - Arábia Saudita; 1990-1991: Iraque; 1991 – Kuwait; 1991-2003 – Iraque; 1992-1994 – Somália; 1992-94 – Iugoslávia; 1993 – Bósnia; 1994 – Haiti; 1996-1997 - Zaire (Congo); 1997: Libéria; 1997: Albânia; 1998 – Sudão; 1998 – Afeganistão; 1998 – Iraque; 1999 – Iugoslávia; 2000 – Iêmen; 2001 – Macedônia; 2001-21 – Afeganistão; 2002 – Iêmen; 2002 – Filipinas; 2003 – Colômbia; 2003-2011 – Iraque; 2003 – Libéria; 2004-2005 – Haiti; 2005 – Paquistão; 2006 – Somália; 2008 – Síria; 2009 – Iêmen; 2011 – Líbia; 2014 – Iraque; 2014: Síria.

A Crise do Imperialismo Ocidental

A partir da dissolução da União Soviética (1991), o imperialismo estadunidense impôs ao mundo sua hegemonia total, isto é, econômica, política e militar. O predomínio se fez pela ratificação do dólar como moeda de Referência mundial; criação do G7, as sete principais economias; expansão e fortalecimento das forças armadas com mais de 700 bases e milhares de soldados espalhados pelo mundo; pela proibição do armamento militar do Japão, Alemanha e Itália, integrando, por outro lado, os demais países europeus sob o comando da OTAN. Este aparato militar, que deveria ser extinto com a queda da União Soviética e a dissolução do Pacto de Varsóvia, ampliou-se, contando, atualmente, com 30 países.

A expansão da OTAN para o Leste Europeu já se aproxima das fronteiras da Rússia e foi exatamente isso que motivou a intervenção russa na Ucrânia, pois o governo ucraniano já havia pedido sua inclusão à OTAN.

A Guerra Rússia versus Ucrânia

Vejamos as razões do conflito. A Ucrânia foi transformada em uma das 22 repúblicas soviéticas, idealizada por Lênin, em 1918, e ratificada pelo PCUS em 1922. Essas repúblicas, a semelhança dos estados brasileiros, gozavam de certa autonomia, cabendo a elas, no entanto, a implementação local das medidas socioeconômicas socialistas. A dissolução da União Soviética, em 1991, contribuiu para a separação de muitas dessas repúblicas, inclusive para a independência da Ucrânia.

A crise cíclica do capitalismo de 2008, já mencionada ligeiramente no item da financeirização da economia, teve efeitos desastrosos em quase todos os países da cadeia produtiva mundial comandada pelo imperialismo estadunidense. Os efeitos dessa crise ainda permanecem no mundo, inclusive no Brasil, notadamente a partir de 2013, culminando com o golpe político que derrubou a presidente Dilma, em 2016.

Na Ucrânia, não foi diferente, e em 2014, as contradições internas se acentuaram levando à derrubada do governo e à ascensão de um novo governo que abriu espaço para organizações fascistas, culminando em revolta e massacre de pessoas de esquerda e crescente perseguição da população de origem russa, o que acentuou ainda mais as contradições políticas naquele país.

A conjuntura de crise que ainda se estendia ao longo dos anos 2014-18, contribuiu para a eleição do atual governante, um comediante televisivo, bancado por um dono de emissora de televisão nacional; governo de tendência fascista e desqualificado para a gestão pública, e ainda totalmente alinhado ao imperialismo estadunidense, a tal ponto que sua principal meta era afastar-se politicamente da Rússia e aderir à União Europeia e consequentemente à OTAN.

Diante da iminência de medidas antirrússia, o governo russo reintegrou a região da Criméia, em 2014, ao seu próprio país, legitimando tal medida, posteriormente, por meio de um plebiscito que teve a aprovação de 96% da população local. A Criméia, como a própria Ucrânia, sempre foi parte do império russo, mas lá havia uma estratégica base militar soviética, com livre acesso ao mar Negro, razão pela qual a Rússia jamais abriria mão daquela região.

Em seguida, na região da bacia do rio Don (Donbass), as províncias de Donetsk e Luhansk, com população majoritariamente russa, decidiram declarar autonomia política, fato este apoiado em plebiscito por suas populações (89% e 96%, respectivamente).  O governo central ucraniano, apoiado por forças neonazistas, o famoso batalhão Azov, atacou as duas províncias do Donbass, assassinando cerca de 15 mil pessoas, majoritariamente civis.

O que desencadeou o ataque russo foi a concentração de 60.000 soldados ucranianos, fortemente armados, para uma ofensiva decisiva contra a região de Donetsk, cuja autonomia havia sido recém-reconhecida pela Rússia. Diante da crescente ameaça à segurança russa, o governo Putin resolveu intervir, ocasionando a guerra atual.

Ensaios para uma nova Ordem Mundial

A ascensão política, econômica e militar da China e o desenvolvimento de nações como Rússia, Índia, Irã, Turquia, Paquistão, Brasil, entre outras nações, já indicam que a velha ordem unipolar está morrendo e a multipolaridade já está na maternidade. Mas, como dizia Marx, a violência é a parteira da História. Assim, entre a morte do velho e o nascimento do novo, desencadeia-se um processo de violência.

Vejamos como se expressa essa violência, atualmente: cancelamento das reservas internacionais da Rússia; bloqueio dos mercados para os produtos russos, como já vem ocorrendo com a RPDC, Irã, Cuba, Venezuela etc.; rejeição e fobias em relação aos produtos culturais dos países bloqueados etc. e apoio material e financeiro à Ucrânia na luta contra a Rússia e uma intensa campanha midiática pró-Ucrânia, satanizando as forças armadas russas, mostrando cenas forjadas de massacres de civis ucranianos.

Para entendermos a origem dessas notícias, cito, a seguir, um depoimento de John Stockwel, ex-Diretor de Operação da CIA estadunidense:

“Uma das maiores funções da CIA é espalhar propaganda para influenciar a mente das pessoas (... ) Podemos dar “informação” a jornalistas ou até mesmo recrutá-los. Temos jornalistas trabalhando conosco, recrutados. Tínhamos 400 jornalistas no final dos anos 70, trabalhando para a CIA. Incluindo os maiores nomes do jornalismo.

Por exemplo, durante a guerra de Angola, que ajudei a gerir pessoalmente, um terço dos nossos funcionários, que tínhamos em todo o mundo, eram responsáveis pela propaganda, principalmente em Londres, Kinshasa, Zâmbia.

Desde a CIA escrevíamos as histórias, colocamo-las no Times Zâmbia, os nossos “jornalistas” na Europa replicavam propaganda. Era nossa gente que escrevia sobre AFP e Reuters sobre supostas atrocidades e violações das tropas cubanas... e na verdade não houve um único fato destes crimes, era tudo falsidade, pura propaganda para influenciar contra o comunismo”.

Outro exemplo de violência, segundo depoimento do governo Sérvio: eles me disseram que sancionariam também a Sérvia, caso não votasse pela expulsão dos russos da Comissão dos Direitos Humanos da ONU.

Outro tipo de violência diz respeito à privatização da guerra na Ucrânia. Exércitos de mercenários são contratados por empresas financiadas pelo imperialismo. Assim, milhares de voluntários de diferentes países, inclusive do Brasil, são contratados por alguns milhares de dólares, treinados por ex-militares estadunidenses e armados e direcionados para o campo de batalha.

E agora, abril/2023, foram divulgados documentos secretos (milhares de páginas raqueadas) do Pentágono mostrando como o imperialismo mantém serviço ativo de espionagem em diversos países e até na própria ONU. Há, também, no material raqueado coação explícita a países, como a Coreia do Sul, intimando-a enviar armas para a Ucrânia, o que contraria as leis internas daquele país. A Coreia do Sul assim intimidada está pensando em enviar armas para a Polônia, como uma porta de entrada das armas na Ucrânia.       

Multipolaridade comandada pelos BRICS

A China e suas alianças comerciais; sua política de investimentos maciços em outros países; criação de commodities como referência de lastro para uma nova moeda de Reserva. A economia chinesa, o PPP (Paridade de Poder de Compra), já supera o PIB estadunidense, e seus investimentos externos, a chamada nova rota da seda, já perpassa os mercados mundiais. Ao lado da China, a Índia, a Rússia, o Brasil, a África do Sul (BRICS), além do extenso território, população numerosa, recursos naturais abundantes e nível razoável de industrialização, colocam para o mundo a possibilidade de uma nova Ordem mundial. Acrescente-se a esse grupo de países, outros como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã, Somália e quem sabe mais adiante Nigéria, Senegal, Tailândia, Indonésia, Argentina, Vietnam e o México. Temos aí o espelho da nova multipolaridade.  E, assim, não adianta mais o imperialismo ocidental correr atrás das borboletas, pois elas já voaram para as flores do jardim dos BRICS.

solonsantos@yahoo.com.br – ligeiras notas –21/03/24 – www.notassocialistas.com.br