O que é Materialismo Dialético

 

Introdução

 

A forma superior histórica da dialética é a dialética materialista, a ciência das leis mais gerais do desenvolvimento da natureza, da sociedade e do pensamento.

 

O materialismo histórico é a doutrina marxista das leis do desenvolvimento da sociedade.

 

A filosofia percorreu um longo e complicado caminho. No processo de formação, divulgação e substituição das correntes filosóficas, na luta entre materialismo e idealismo, entre dialética e metafísica, foi sendo resolvido o problema central da filosofia – a relação do pensamento com o ser –. Apareceram e foram resolvidos outros problemas filosóficos, acrescentaram-se e desenvolveram-se os conhecimentos sobre as leis do ser e do conhecimento, eliminaram-se erros, desvios e deformações da verdade.

 

O conhecimento filosófico do mundo desenvolveu-se num movimento ascensional, do inferior para o superior, da ignorância até ao saber. Este percurso histórico do pensamento filosófico teve, por base, a atividade prática do homem, em última instância, o desenvolvimento da produção material e, nas sociedades constituídas por classes antagônicas, a luta entre estas. Uma das mais importantes forças propulsoras da filosofia foi o progresso da ciência, particularmente, o da ciência da natureza.

 

A luta entre materialismo e idealismo que, afinal, expressa a oposição de interesses entre classes e grupos sociais, sempre foi e continua sendo, nas sociedades classistas, o eixo do avanço do pensamento filosófico. Vinculada a ela e, fortemente, dependente desta luta, trava-se a batalha entre os métodos de pensar metafísico e dialético.

 

O desenvolvimento da filosofia no decurso da luta do materialismo contra o idealismo, da dialética contra a metafísica, foi a premissa teórica que deu vida, na

década de 40 do século XIX, à filosofia, autenticamente, científica dos nossos dias, o materialismo dialético.

 

Na filosofia grega antiga já estavam presentes, em embrião, todos os tipos posteriores de cosmovisão. As representações materialistas iniciais, em muitos aspectos ingênuas, e defendidas por antigos pensadores orientais e gregos acerca do mundo como um todo único e relacionado, constituído de “matéria prima”, foram substituídas, com o correr dos tempos, por conceitos científicos da materialidade do mundo e das diversas formas do seu ser e movimento, baseados nas conquistas das ciências naturais. Das concepções materialistas científicas, nasceu a forma superior da filosofia materialista científica, o materialismo dialético, que revelou as leis gerais do desenvolvimento do mundo objetivo e do conhecimento, e que enriqueceu o panorama dialético científico com o multiforme, contraditório e complexo processo de evolução do mundo material e do pensamento humano.

 

No trabalho filosófico desenvolvido ao longo da história, as primitivas representações materialistas ingênuas, de que as ideias e os conceitos eram derivados imediatos dos fenômenos materiais, foram substituídas pelos conceitos modernos científicos dos materialistas relativos, segundo os quais, a matéria ostenta um caráter primário, como realidade objetiva que opera sobre os nossos sentidos, e a consciência agrupa-se numa posição secundária. Passado o século XIX, surgiu e desenvolveu-se a doutrina materialista dialética sobre a unidade do objeto e sujeito, do ser e consciência, no decurso da prática e sobre ela mesma.

 

O pensamento filosófico foi avançando, de tal forma, que as representações pré-científicas dos filósofos antigos, sobre a capacidade humana para conhecer o mundo, deram lugar, mercê do progresso da prática social e do progresso da ciência, à teoria materialista do conhecimento, a qual demonstrou que os conceitos que refletem, fielmente, a realidade são verdades objetivas. O grau superior do desenvolvimento das concepções materialistas sobre o mundo e o conhecimento da realidade passaram a ser assumidos pelo materialismo dialético, que surge como gnosiologia científica do marxismo e que considera o conhecimento do mundo como um processo dialético condicionado pela prática social, no qual, as verdades relativas vão constituindo as verdades absolutas e a veracidade do conhecimento é comprovada na prática.

 

Se nos pensadores antigos existia a representação dialética, fundamentalmente, espontânea, de que o mundo era um todo único, cujas partes se inter-relacionavam e cooperavam, moviam e se desenvolviam, o posterior progresso do pensamento filosófico deu lugar a que, na maioria das doutrinas filosóficas, especialmente, nas elaboradas durante os séculos XVI, XVII e XVIII, tomasse assento o método metafísico, inevitável naqueles tempos, que se limita, basicamente, a analisar e ordenar os diversos fenômenos da realidade. Os elementos de dialética presentes nas doutrinas filosóficas dos séculos XVII, XVIII e o método dialético, desenvolvido em base idealista na filosofia clássica alemã, não podiam transformar-se num método, autenticamente, científico de conhecimento da realidade, apesar da fecundidade que denotava a aplicação da dialética na esfera do pensamento humano. Só numa nova etapa do pensamento filosófico (a partir de meados do século XIX, dentro da filosofia do marxismo) se aplicou a dialética, convertida em materialista, ao estudo de todos os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento, tornando-a num método universal de conhecimento científico e de transformação revolucionária do mundo.

 

Durante toda a sua história, o pensamento filosófico investigou os problemas sociológicos, as questões relativas às leis do desenvolvimento da sociedade, ao lugar do homem nesta, ao sentido da vida humana etc. O pensamento filosófico passou das primitivas concepções pré-científicas sobre a estrutura social, características dos pensadores da antiguidade (Platão, Aristóteles e outros autores), e das teorias utópicas do Renascimento (Campanella, Thomas Morus), aos ideais revolucionários de reorganização social (os ilustrados do século XVIII, os democratas revolucionários do século XIX), desenvolvidos na luta contra as concepções reacionárias e conservadoras sobre a vida social. Mas, nem mesmo os ideais mais progressistas contavam, ainda, com uma fundamentação científica, nem puderam iluminar transformações radicais da vida social antes de aparecer o movimento revolucionário da classe operária e de nascer o marxismo, que elaborou uma doutrina materialista dialética íntegra, alargando a sua teoria e o seu método ao conhecimento da sociedade.

 

O materialismo histórico, criado por Marx e Engels, revelou as leis gerais do desenvolvimento da sociedade e passou a ser o suporte teórico para a transformação revolucionária da sociedade capitalista em sociedade comunista.

 

O materialismo dialético e o materialismo histórico, também, permitiram a fundamentação teórica da ética científica e da estética realista, assim como, do ateísmo científico.

 

O desenvolvimento ascensional da filosofia foi levado a cabo em muitos países do mundo e foi obra dos pensadores de muitas nações, por meio de permanente comunicação de ideias e de crescentes relações entre os povos, entre suas culturas e seu pensamento científico e social. Com o aparecimento do marxismo, a humanidade ganhou uma filosofia universal, autenticamente, científica, que foi erguida como bandeira ideológica do proletariado internacional e pelas massas trabalhadoras de todo o mundo.

 

Enquanto as doutrinas filosóficas anteriores ao marxismo, inclusive as progressistas, as vinculadas aos movimentos libertadores de cada época, explicavam, de algum modo, o mundo, mas, não podiam ensinar qual a forma de o mudar, o materialismo dialético e o materialismo histórico constituem a primeira filosofia de ação revolucionária das massas populares da história. O socialismo, que no século XIX deixara de ser um sonho para se transformar em ciência, converteu-se em obra prática político-social de milhões de trabalhadores.

 

O compêndio de história da filosofia refuta a visão dos ideólogos burgueses modernos acerca do pensamento filosófico da humanidade. Na atualidade, muitos filósofos reacionários minimizam e tratam, com despeito, a história da filosofia, classificando-a de “otimismo progressista vulgar”. Outros apresentam, como constituindo o “século de ouro” da humanidade, doutrinas filosóficas que caducaram em tempos remotos, defendem que são “imorredouras” e conservam todo o seu valor hoje em dia. Os fatos da história da filosofia denunciam a insolvência de afirmações como as dos filósofos reacionários contemporâneos que negam a autonomia da ciência filosófica e suas tradições históricas, e a transformam num apêndice da teologia, ou num meio interpretativo da “linguagem da ciência”.

 

O convincente e engenhoso processo da história do conhecimento filosófico do mundo testemunha que os problemas filosóficos e a sua solução exerceram uma fecunda influência sobre a ciência. Este fato refuta, por completo, o ponto de vista dos filósofos burgueses (neopositivistas, pragmatistas etc.), os quais afirmam que a filosofia não teve nem tem problemas próprios e que toda a sua função se reduz a dar esta ou aquela interpretação às proposições das ciências concretas.

 

A verdadeira história do pensamento filosófico destrói a visão nihilista dos ideólogos da reação contemporânea, para quem a história da filosofia é “uma estéril contenda de contradições e opiniões”, muito alheia à verdade e sem alcance positivo para a ciência moderna. Os filósofos burgueses reacionários proclamam, como única e verdadeira, a filosofia do passado que eles professam (o platonismo, o tomismo, o positivismo e outras doutrinas) e afirmam, contra a verdade histórica, que a história do pensamento filosófico, especialmente desde Bacon e Descartes até os nossos dias, está provando a sua regressão e decadência. Apesar dos desvios da verdade científica para o idealismo e a metafísica, apesar da unilateralidade em que incorreu, amiude, o pensamento filosófico, a história da filosofia demonstra que, em conjunto, avançou pelo caminho do desenvolvimento progressista, ampliando e aperfeiçoando o conhecimento filosófico do mundo, enriquecendo a cultura da humanidade e concorrendo para a solução dos problemas que a sociedade e a ciência tinham colocado.

 

1.1 Tipos de Materialismo na História da Filosofia

 

Apesar de toda a diversidade e profusão de doutrinas filosóficas materialistas que existiram, desde a antiguidade até os nossos dias, em determinadas fases do desenvolvimento social, todas elas se caracterizaram por substanciais notas comuns que permitem alinhá-las num ou noutro tipo histórico de materialismo.

 

Os principais traços distintivos que fixam a filiação das doutrinas filosóficas, num ou noutro tipo de materialismo, são:

 

I - O caráter da sua interpretação do mundo, isto é, a solução dada à questão central da filosofia; II - O modo geral de abordar o conhecimento dos fenômenos do mundo (dialético espontâneo, metafísico, dialético) e, em consonância, determinado método do pensamento; III - A sua forma de se vincular às ciências naturais, cujo caráter e nível exercem notável influência sobre o conteúdo da filosofia e, em certa medida, o determinam; IV - A relação da doutrina filosófica dada com o regime social da época histórica correspondente, expoente da visão do mundo de uma classe ou grupo social determinados.

 

Pertencem ao materialismo pré-marxista os seguintes tipos, historicamente, formados:

 

I - O materialismo primitivo dos pensadores da Antiguidade, que incluía uma abordagem espontaneamente dialética dos fenômenos do mundo; Este materialismo era parte integrante de um saber, inicialmente não subdividido, e correspondia, em medida considerável, aos interesses das forças avançadas da sociedade escravagista.

 

II - O materialismo metafísico dos pensadores dos séculos XVI, XVII e XVIII e da primeira metade do século XIX que incluía o método metafísico de pensamento; Este materialismo apoiava-se, essencialmente, numa ciência natural mecanicista, e expressava a interpretação do mundo da burguesia em ascensão e de outras forças da sociedade que preconizavam o desenvolvimento capitalista.

 

III - O materialismo dos ideólogos da democracia revolucionária do século XIX, na Rússia, e de outros países que passavam do feudalismo ao capitalismo e que, amiude, coincidiu com um modo dialético de abordagem dos fenômenos do mundo, modo, no qual, os seus seguidores viam a fundamentação teórica das mudanças revolucionárias, mas que, não chegou a expressar um método integralmente dialético.

 

Este último tipo de materialismo apoiava-se numas ciências naturais espontaneamente dialéticas e, em alguns casos, nas grandes descobertas logradas, pela ciência, durante o século XIX. Expressava, vulgarmente, a visão do mundo dos camponeses e de outras forças revolucionárias que condenavam o feudalismo e seus vestígios.

 

Além destes tipos de materialismo historicamente formados, houve, na história da filosofia, outras modalidades de materialismo. Por exemplo:

 

I - O materialismo panteísta de Giordano Bruno no século XVI; II - O materialismo dos ilustrados chineses nos séculos XV a XVIII; III - O materialismo natural-histórico; IV - O materialismo antropológico; V - Outros...

 

O tipo histórico superior de materialismo e, simultaneamente, a sua forma nova, qualitativamente diferente por princípio, de todos os anteriores, é o “materialismo dialético”.

 

A história do materialismo dialético divide-se em etapas e graus, estreitamente relacionados com as mudanças na vida da sociedade e com o desenvolvimento do movimento revolucionário comunista.

 

A primeira etapa na história da filosofia marxista é a correspondente à formação, desenvolvimento e propaganda do materialismo dialético e do materialismo histórico por Marx, Engels e seus seguidores, na época do capitalismo pré-monopolista (aproximadamente até a metade da década de 90 do século XIX).

 

Uma nova etapa superior, na história da filosofia marxista, é constituída pelas contribuições de Lênin, seus colaboradores e discípulos, na época do imperialismo e com raiz na Revolução Russa, na luta entre os dois sistemas sociais, na construção do comunismo. A etapa leninista na filosofia do marxismo, inaugurada em meados dos anos 90 do século XIX, prossegue nos nossos dias. 

 

1.2 Formas da Dialética na História da Filosofia

 

A dialética, que surgiu, inicialmente, na filosofia dos pensadores do Antigo Oriente, tendo uma expressão rotunda nas doutrinas de Heráclito e outros filósofos da Antiguidade grega, percorreu um longo caminho.

 

As principais formas históricas assumidas pela dialética são:

 

I - Dialética espontânea dos pensadores antigos; II - Dialética da filosofia clássica alemã (final do século XVIII e começo do século XIX); III - Dialética materialista do marxismo-leninismo.

 

A dialética espontânea dos pensadores antigos, que numa série de correntes filosóficas daqueles tempos foi materialista, partia do princípio de que o mundo “não foi feito por deuses, nem por homens” (Heráclito), que todas as suas partes se encontram em desenvolvimento e reciprocamente vinculadas.

 

Mas, a ciência não tinha, ainda, um conhecimento cabal destas partes do mundo, não as investigara detalhadamente.

 

A dialética da filosofia clássica alemã (particularmente de Hegel) – fundamentalmente idealista – foi um método sistematizado que considerava o mundo dos conceitos como um processo inter-relacionado e em desenvolvimento, que tinha por origem a luta das contradições internas.

 

Os expoentes da filosofia clássica alemã, especialmente Hegel, vislumbraram, na dialética dos conceitos, a dialética das coisas, do mundo material. Na história da filosofia, jogou um importante papel uma particular forma de transição da dialética idealista para a materialista, a saber, a dialética elaborada pelos democratas materialistas revolucionários do século XIX, os materialistas russos Herzen, Belinski, Cernichevski e Dobroliubov, que a compreendiam como “a álgebra da revolução, isto é, como fundamentação teórica das transformações revolucionárias. Esta forma de dialética envolvia um “elemento viável da dialética materialista” (Plekhanov).

 

Além das formas de dialética consignadas, a história da filosofia mostra-nos outros tipos de pensamento dialético que constituíram, ora formas embrionárias da dialética, ora fases intermédias de transição de uma para outra forma de dialética.

 

Nas doutrinas de alguns pensadores orientais, hindus, chineses, árabes, detectam-se fortes tendências dialéticas, tanto na Antiguidade como na Idade Média.

 

As doutrinas materialistas dos séculos XVII e XVIII, que pelo seu método de pensamento foram, principalmente, metafísicas, em especial nos sistemas de Bacon, Spinoza, Toland, Diderot, Lomonosov, Radischev e outros ilustres filósofos, encerram valiosos elementos de dialética.

 

A forma superior histórica da dialética é a dialética materialista, que constitui a “alma viva” do marxismo, a ciência das leis mais gerais do desenvolvimento da natureza, da sociedade e do pensamento.

 

A dialética marxista desenvolve-se e enriquece-se concretizando as suas leis e categorias, mediante a generalização dos novos processos de desenvolvimento social e das conquistas da ciência. A elaboração da dialética materialista e sua aplicação criadora nas obras de Lênin, de seus companheiros e discípulos, nos documentos dos partidos marxista-leninistas e nos escritos dos cientistas marxistas contemporâneos, formam uma nova fase no progresso do conhecimento científico dialético do mundo.

 

A história das etapas fundamentais da trajetória do pensamento filosófico, dos tipos de materialismo e das formas da dialética, testemunha o movimento ascensional do conhecimento filosófico do mundo, que nunca para no nível que alcança e vai mudando de forma.

 

1.3 Lições de História da Filosofia

 

A evolução histórica das mais importantes correntes filosóficas que examinamos, mostra-nos que a história da filosofia não é a simples soma de sistemas e escolas, uns atrás dos outros, mas sim, um processo histórico sujeito a leis e cujas fases estão inter-relacionadas.

 

O decurso do pensamento filosófico não é uma fila de ideias que se reduza à soma das noções e concepções dos filósofos de uma dada época com as dos pensadores das épocas seguintes, nem à descoberta de novas ideias filosóficas a partir das velhas, independentemente, das condições histórico-sociais. Na realidade, a história da filosofia é um processo complexo e contraditório do reflexo da existência natural e social na consciência dos ideólogos das diversas classes e grupos sociais.

 

O processo de sucessão, sujeito a leis, no desenvolvimento das ideias filosóficas, e a subsistência e utilização das pertencentes a épocas anteriores em períodos posteriores da história, dependem, em boa parte, da direção assumida pela sociedade nas novas circunstâncias históricas, dos interesses das diversas classes.

 

Os ideólogos das novas classes recebem e reelaboram, com visão crítica, uma herança filosófica e combatem as ideias alheias e hostis à cosmovisão destas classes. De acordo com isto, a história da filosofia aparece-nos como generalização filosófica da história do desenvolvimento intelectual da humanidade, como expressão da história da luta de classes, da história da cultura da humanidade.

 

No conteúdo do pensamento filosófico, expressam-se os grandes acontecimentos da história, as batalhas sociais, as revoluções e mudanças de formação social, as descobertas científicas que fazem época.

 

Nas doutrinas filosóficas avançadas, manifestam-se a copiosa experiência de vida dos povos, os seus ideais sociais, o trabalho intrépido e criador das artes e da ciência. Por isso, sem conhecer a história da filosofia, sem a estudar, não se pode compreender a história da humanidade, o seu passado, presente e futuro.

 

A história da filosofia mostra-nos que o andamento do pensamento filosófico nunca foi ritmado e pacífico, liberto de contradições e lutas.

 

Na realidade, a filosofia sempre foi partidária, sempre expressou interesses de classe. Os fatos da história da filosofia refutam as “descobertas” dos reacionários, segundo as quais, a divisão das doutrinas filosóficas em materialistas e idealistas “caducou” e temos que nos situar nos altares da “objetividade”, “acima” das lutas de partido na filosofia. 

 

A filosofia marxista-leninista que reclama um conhecimento científico, rigorosamente, objetivo e, consequentemente, segue o princípio do partidarismo em filosofia, combate o objetivismo burguês que apregoa a suspensão da luta do materialismo contra o idealismo. O marxismo ensina a manter, com firmeza, as posições do materialismo na filosofia, na ciência e na vida social, a combater, sem dar tréguas, a filosofia idealista, as concepções religiosas e todas as restantes espécies da ideologia reacionária do revisionismo e do dogmatismo.

 

Ao mesmo tempo, a história marxista da filosofia ensina-nos a preservar e elaborar o grande legado de pensamento filosófico, a prosseguir as suas melhores tradições. Se bem que, em cada época, a filosofia seja um elemento da superestrutura ideológica construída sobre a base da economia, não é por isso que, ao desaparecer esta, da qual é reflexo, desapareça, necessariamente, aquela (Filosofia). Os resultados valiosos do conhecimento filosófico conseguidos em cada fase do desenvolvimento histórico, o “aparelho conceptual” da filosofia e suas categorias lógicas subsistem, e o estudo profundo de tudo isso é a melhor escola do pensamento teórico.

 

A história do pensamento filosófico mostra-nos que tanto os “grandes” povos como os “pequenos” deram o seu contributo específico ao patrimônio comum da cultura mundial, incluindo na filosofia. Portanto, refuta as concepções “eurocentristas” de alguns historiadores burgueses da filosofia, para os quais, houve “povos filosóficos” e outros que não o foram, e que só o “mundo ocidental” foi foco do pensamento filosófico, pois, o feito neste domínio, por muitas outras nações, não tem valor para a filosofia mundial.

 

A história da filosofia universal, também, rebate as concepções “asiocentristas” que os nacionalistas burgueses, hoje, ressuscitam, bem como, os elementos sectários dos países orientais, em virtude das quais, só o Oriente foi e continua a ser o porta-voz do verdadeiro pensamento filosófico, enquanto que, o Ocidente manifestou, sempre, e ainda manifesta plena indiferença pelo mundo espiritual e moral do homem, se enfeixando no racionalismo, no praticismo etc.

 

A história da filosofia do Ocidente e do Oriente evidencia que condições históricas coincidentes na vida social deram lugar, nos distintos países, a doutrinas e ideias filosóficas similares no seu caráter, ideias que incidiram no desenvolvimento da ciência, da cultura e do pensamento social dos povos que lhes deram vida, bem como, nos de outros países.

 

Se bem que certas doutrinas filosóficas de alguns países do Oriente não tenham exercido influência direta sobre a filosofia e a cultura da Europa Ocidental moderna, não é lícito admitir que se encontrem à margem da cultura mundial e que não possuam significado filosófico próprio.

 

O valor filosófico da contribuição de cada povo não depende da influência que exerça, diretamente, sobre o pensamento filosófico do Ocidente, mas apenas, na medida em que as ideias filosóficas elaboradas pelos pensadores desse povo tenham sido profundas, científicas e válidas; na medida em que tenham fecundado a ciência, a arte, a cultura e o desenvolvimento do movimento emancipador no seu país e outros países. Apesar das condições históricas desfavoráveis para o intercâmbio cultural entre os povos, a comunidade de ideias e concepções em doutrinas de pensadores de diferentes nações e a sua influência recíproca foram, sempre, aumentando, como o demonstra bem, por exemplo, a influência da filosofia árabe sobre os países ocidentais ou a das ideias filosóficas da Revolução Francesa e de outras doutrinas progressistas euro-ocidentais do século XVIII sobre muitos países, entre eles, os do Oriente, ou a da filosofia dos democratas revolucionários russos do século XIX sobre os pensadores avançados da Europa Oriental etc.

 

Se as doutrinas filosóficas anteriores ao marxismo, tanto as que só foram conhecidas nos seus países de origem, como as que influenciaram outros, não desempenharam um papel decisivo, de alcance histórico universal no desenvolvimento do pensamento filosófico da humanidade, na maioria dos casos não se converteram em filosofia mundial. O materialismo dialético e materialismo histórico, criados no Ocidente por Marx e Engels e elevados a um grau superior na Rússia, por Lênin, constituem uma doutrina, autenticamente, internacional que diz respeito, igualmente, aos países do Ocidente e do Oriente.

 

A vitória das ideias marxista-leninistas nos países socialistas e sua ampla divulgação em muitos países refutam as teorias dos falseadores do marxismo-leninismo, segundo os quais o marxismo está relacionado, apenas, com o pensamento “ocidental”; o leninismo com o “oriental”, e o marxismo-leninismo, em conjunto, não é uma doutrina internacional. Na realidade, o marxismo-leninismo entrou na mente de centenas de milhões de pessoas.

 

A filosofia evolui em estreita ligação com o progresso da ciência natural, confirma o princípio de Engels acerca de o materialismo dever mudar de forma com cada nova descoberta científica que marca uma época.

 

A história da filosofia, especialmente nos séculos XVIII, XIX e XX, prova que quase todas as tendências pertencentes a escolas filosóficas opostas abordam as ciências naturais e tentam dar-lhes explicação filosófica. As descobertas das ciências naturais são objeto de árdua luta filosófica.

 

A história do pensamento filosófico ensina-nos que, sem uma sólida aliança com as ciências naturais, sem firmes alicerces científico-naturais, é impossível elaborar uma filosofia científica. Por sua vez, as ciências naturais não conseguem vencer a luta contra a religião e a reação sem sólidas bases filosóficas. Da história da filosofia, concluímos acerca da necessidade de um estudo profundo e constante das conquistas das ciências naturais e da sua interpretação filosófica do ponto de vista do materialismo dialético. Sem isso, não é possível elaborar, em nossa época, uma concepção do mundo autenticamente científica.

 

O estudo da história da filosofia mostra-nos que a filosofia não só esteve com a ciência, mas também, com outras vertentes da vida intelectual, com diversas formas da consciência social (a religião, a ideologia política, o direito, a moral, a arte). Em certas épocas históricas, ocupou o primeiro plano uma forma de consciência social, vinculada a muitas formas com outras formas e com a filosofia, predominando e exercendo uma influência, particularmente, forte sobre toda a vida espiritual da sociedade.

 

Na Grécia antiga, a forma predominante da consciência social foi a filosofia, melhor dito, uma cosmovisão global protagonizada pelas ideias filosóficas e, da qual, ainda não tinham saído as ciências concretas, então, pouco desenvolvidas.

 

Na sociedade feudal, a forma de consciência social, preponderante, foi a religião, que imprimiu a sua marca sobre a filosofia, a moral, a arte, e outras formas de consciência social. 

 

No período que abarca os séculos XVI a XVIII, quando o regime feudal começou a ser substituído pela sociedade capitalista, baseada no desenvolvimento da indústria, a ciência, especialmente a ciência da Natureza, foi adquirindo mais e mais peso específico na consciência das pessoas e, portanto, influência sobre as suas concepções filosóficas. Do final do século XVIII até o início do século XIX, entre ásperas batalhas sociais e transformações revolucionárias, a ideologia política, que de modo mais cabal expressava os interesses básicos das classes em confronto, cumpriu um papel excepcional no desenvolvimento da consciência social. Com a ciência, a ideologia política continua a exercer, hoje em dia, uma grande e direta influência sobre a filosofia.

 

No período histórico contemporâneo, o materialismo dialético e o materialismo histórico, em estreita ligação com o comunismo científico e plasmados de forma concreta na política e na prática do Partido Comunista e de outros partidos operários, apoiam-se, cada vez mais, na ciência transformada, hoje, em força produtiva direta. A doutrina marxista-leninista assenta no conjunto de todas as ciências naturais e sociais, generaliza, filosoficamente, os seus progressos.

 

Por seu lado, a ideologia política reacionária da burguesia imperialista, bem como a ideologia religiosa e outras formas de consciência burguesa, exercem uma influência enorme sobre a filosofia idealista contemporânea, conduzindo muitos de seus expoentes a um falseamento consciente da história e do tempo presente.

 

Antes de aparecer a filosofia do marxismo, existia a contradição entre o desenvolvimento da filosofia materialista e o método metafísico de pensar, que já nos séculos XVIII e XIX restringia, em certa medida, o progresso da ciência e da filosofia. O método dialético, elaborado pelos clássicos da filosofia alemã no final do século XVIII e início do século XIX, numa base idealista, encontrava-se em profunda contradição com os seus sistemas idealistas conservadores que davam uma interpretação adulterada, quando não falsa, do processo de desenvolvimento na natureza, na sociedade e no pensamento.

 

Os democratas revolucionários russos do século passado levaram a cabo uma fecunda tentativa de superar as contradições entre a teoria materialista e o método metafísico de pensar, ao substituírem este último pela dialética, ainda que, não tenham conseguido elaborar, em termos materialistas, a dialética hegeliana e converter a dialética em verdadeira ciência.

 

Essa contradição entre a teoria e o método só foi ultrapassada com o marxismo-leninismo, a primeira doutrina filosófica da história em que teoria e método se encontram unidos, indissoluvelmente. O movimento comunista internacional parte dessa unidade da teoria e do método no marxismo, rejeita, resolutamente, as pretensões dos críticos do marxismo de “expurgar” a dialética da teoria marxista, de arrancar desta a sua “alma viva”, e de “libertar” a dialética das suas bases materialistas, reduzindo-a a uma dialética conceptual, com a qual não passaria da escolástica dos nossos dias. Da história de filosofia, se depreende que é preciso dominar a fundo o método da dialética materialista, aprender a aplicá-lo ao conhecimento científico e à atividade prática, estudar, continuamente, os fenômenos e processos da natureza e da sociedade, participar na transformação revolucionária do mundo.

 

A história da filosofia mostra-nos que, antes do marxismo, as doutrinas filosóficas, ao se ocuparem dos diferentes aspectos do saber filosófico, tentavam resolver os chamados problemas ontológicos relativos às bases e leis do ser; os problemas da gnosiologia acerca da relação do pensamento com o ser e da cognoscibilidade do mundo, e os problemas da lógica, estudando as formas e as leis do pensamento. Antes do marxismo, não houve, na história, um sistema filosófico que desse uma solução científica integral às questões da ontologia, da gnosiologia e da lógica na sua unidade. Era uma solução que não podia surgir na base do materialismo metafísico, incapaz de compreender que a história da natureza, da sociedade e seu conhecimento são processos que evoluem de modo dialético.

 

Hegel realizou uma ciclópica tentativa de fundir, num só sistema, a ontologia, a gnosiologia e a lógica, dentro de uma concepção idealista, mas, o idealismo não pode oferecer uma solução, autenticamente, científica deste problema, já que parte de uma representação falseada da realidade, entendendo-a como autodesenvolvimento da ideia absoluta.

 

Só o materialismo dialético e histórico de Marx, Engels e Lênin resolveram o problema que a filosofia tinha colocado de unir numa doutrina global a ontologia, a gnosiologia e a lógica, demonstrando que a dialética materialista é, simultaneamente, a ciência das leis gerais do mundo objetivo e do pensamento que o reflete, a lógica e a teoria do conhecimento.

 

As leis e categorias do materialismo dialético que expressam as correlações dialéticas gerais do mundo objetivo, paralelamente, são as leis do conhecimento, do pensamento lógico-científico contemporâneo.

 

A história do pensamento filosófico evidencia que as doutrinas filosóficas progressistas partiram dos interesses das forças ascendentes da sociedade e promoveram ideais sociais avançados em ocasiões revolucionárias, como a reconstrução da sociedade baseada nos princípios da justiça, a abolição da desigualdade social, do contraste entre o trabalho manual e o intelectual, entre a cidade e o campo, a paz e a colaboração entre as nações etc.

 

Mas antes de surgir, no âmbito histórico, o proletariado revolucionário, não havia, na sociedade, uma força capaz de levar adiante, de modo coerente e consciente, as grandes transformações sociais, de tornar realidade os ideais sociais progressistas da humanidade trabalhadora.

 

A história da filosofia mostra-nos que só o materialismo dialético e histórico que fundamentam, filosoficamente, o papel histórico-universal do proletariado na abolição do capitalismo e na edificação do comunismo, foram capaz de instaurar os ideais sociais avançados no campo da ciência exata, das leis de desenvolvimento da sociedade, unir a prática revolucionária com a previsão científica da vitória do socialismo e do comunismo, previsão confirmada por todo o desenvolvimento da vida contemporânea.

 

O suporte teórico-científico, a base filosófica do comunismo é o materialismo dialético e histórico, doutrina que se desenvolve de modo criador, que pela sua riqueza teórica e a força da sua influência supera todas as concepções filosóficas e ideais político-sociais do passado e do presente.  

 

A história da filosofia não termina no nível que, hoje em dia, alcançou, pois, a filosofia marxista-leninista nunca se deterá no seu movimento ascensional. Portanto, são, profundamente, alheios à filosofia científica do marxismo-leninismo da nossa época, o revisionismo que discorda dos princípios filosóficos do marxismo comprovados pela vida, pela prática, e o dogmatismo que “esquece” as mudanças acontecidas no desenvolvimento da sociedade e da ciência, e não entende a necessidade de levar avante, criadoramente, a teoria do marxismo, a sua filosofia.

 

O materialismo dialético e o materialismo histórico, sempre, se desenvolverão criadoramente, acrescentando o acervo do pensamento filosófico com novas deduções e proposições. Porão, a descoberto, novas leis no desenvolvimento da natureza, da sociedade e do pensamento. Generalizarão, filosoficamente, a experiência do desenvolvimento social, as conquistas da ciência e da cultura da humanidade.

 

2 Fundamentação Teórica

 

2.1 Fundamentos Teóricos do Comunismo

 

O marxismo foi preparado pelo prolongado e difícil desenvolvimento de toda a história humana. Oprimidos pelo peso da exploração impiedosa, as massas populares sempre sonharam com um futuro radioso.

 

Os espíritos mais esclarecidos da humanidade procuraram compreender a história social. Criaram sistemas filosóficos e teorias econômicas, esboçaram o quadro de uma ordem social ideal, na qual, se refletiu a fé do povo no triunfo da justiça. Não obstante, o insuficiente desenvolvimento das relações sociais e a falta de conhecimentos científicos determinaram o utopismo de tais concepções.

 

Só em meados do século XIX amadureceram as premissas para o surgimento da concepção comunista científica do mundo. O capitalismo provocou o aparecimento da classe operária que se anunciou em grandes ações revolucionárias na Inglaterra, na França, na Alemanha e em outros países. Ao mesmo tempo, o aumento da produção capitalista deu um grande impulso ao desenvolvimento das ciências naturais que acumularam os dados suficientes para oferecer uma imagem científica do mundo.

 

Estava preparado o terreno para uma nova concepção do mundo. Esta era uma necessidade já amadurecida, como testemunha o desenvolvimento das teorias filosóficas e políticas.

 

As fontes teóricas do marxismo foram:

 

I - A filosofia clássica alemã (Hegel / Feuerbach); II - A economia política inglesa (Adam Smith / David Ricardo); III - O socialismo utópico francês (Saint-Simon / Fourier / Robert Owen).

 

Georg Wilhelm Hegel e Ludwig Feuerbach foram representantes eminentes da filosofia clássica alemã.

 

No domínio da economia política, os precursores do marxismo foram os economistas ingleses Adam Smith e David Ricardo. Mostrando que a fonte da riqueza da sociedade é o trabalho, prepararam o terreno para a criação da economia política científica.

 

Os grandes socialistas utópicos do século XIX, Claude Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen submeteram a ordem capitalista a uma dura crítica, criando os planos de uma sociedade ideal. Mas as suas doutrinas não indicavam o caminho real para a consecução desses fins. Os socialistas utópicos acreditavam, ingenuamente, que a via para esse regime ideal passava pela instrução da sociedade e pela persuasão moral dos exploradores. No entanto, as suas doutrinas colocaram problemas que foram, ulteriormente, elaborados na teoria do socialismo científico.

 

Marx e Engels não se limitaram à obra dos seus precursores teóricos. Reelaboraram de maneira crítica a herança ideológica do passado e criaram uma nova doutrina, expressão dos interesses fundamentais do proletariado, a classe mais avançada e revolucionária. Desta maneira, os fundadores do marxismo imprimiram uma viragem revolucionária no pensamento social:

 

I - Despojaram a teoria social de ideias falsas, de representações fantásticas e de esquemas utópicos; Pela primeira vez, a ideologia que habitualmente era entendida como sistema de pontos de vista sociais, transformou-se em ciência, orientou-se para o estudo das leis objetivas do desenvolvimento histórico;

 

II - Transformaram a teoria social em ideologia do movimento proletário de massa, retirando-a dos calmos gabinetes, onde era patrimônio da “aristocracia do espírito”, para os vastos campos das batalhas de classe pelos interesses dos trabalhadores;

 

III - Superaram o caráter contemplativo do pensamento social, o divórcio entre a teoria e a prática, dotando os trabalhadores de uma arma ideológica poderosa para transformar o mundo.

 

2.1.1 As partes integrantes do marxismo

 

A transformação da sociedade, segundo os princípios do comunismo, exige a concepção científica do mundo. Por isso, uma das partes integrantes essenciais do marxismo é a filosofia.

 

Filosofia é a ciência das leis mais gerais do desenvolvimento da natureza, da sociedade e do conhecimento.

 

No entanto, não basta apenas conhecer as leis gerais para compreender porque é que um regime social é substituído por outro. De todas as relações sociais, as relações econômicas, ou relações de produção, ocupam o primeiro lugar. Sem estudá-las, não é possível encontrar a resposta para a questão de como chegar ao socialismo e ao comunismo.

 

Precisamos por isso, outra importantíssima parte integrante do marxismo, a economia política.

 

Economia política é a ciência que estuda o desenvolvimento das relações de produção.

 

A terceira parte integrante essencial do marxismo é a teoria do comunismo científico.

 

Teoria do comunismo científico, partindo da filosofia e da economia política marxistas, esta teoria revela as leis que regem o aparecimento e o desenvolvimento da sociedade comunista. 

 

O pensamento marxista não se limitou a impulsionar a filosofia, a economia política e a doutrina do socialismo. Realizou uma revolução em todas as esferas do conhecimento da sociedade: nas ciências históricas, na ética, na estética etc.

 

Marxismo é um sistema coerente de pontos de vista científicos sobre as leis gerais que regem o desenvolvimento da natureza e da sociedade, sobre o triunfo da revolução socialista e as vias para a edificação do socialismo e do comunismo.

 

Assim, estudando a filosofia marxista, a economia política e a teoria do comunismo científico, é preciso perceber que representam um sistema unitário: todas as partes integrantes do marxismo se encontram intimamente entrelaçadas. Entre as numerosas obras dos fundadores do marxismo-leninismo não há nenhuma que possa considerar-se “puramente” econômica ou filosófica. A filosofia serviu-lhes de método de análise integral das relações sociais, e sobre esta base retiraram as conclusões políticas. E, por sua vez, o estudo profundo da economia e da política ofereceu novo e abundante material para a síntese filosófica.

 

2.1.2 Doutrina criadora em desenvolvimento

 

Nenhuma teoria pode dar resposta cabal a todas as questões e prever, antecipadamente, todas as incidências da vida.

 

A realidade que nos rodeia desenvolve-se sem cessar, e o conhecimento humano enriquece-se continuamente. Se a teoria não tem em conta os fatos novos, transforma-se num sistema de dogmas inertes, divorcia-se da vida e torna-se inútil, e até nociva ao não dar um quadro fiel da sociedade. Por isso, a teoria deve apoiar-se sempre na prática, na vida real. Goethe dizia com razão: “Toda a teoria, caro amigo, é cinzenta, e verde é a árvore frondosa da vida”.

 

Todas as tentativas de criar uma teoria universal acabada estavam, de antemão, condenadas ao fracasso. Com o passar dos anos, essas teorias extinguiram-se com a época que lhes deu vida, passando à história, juntamente, com a classe cujos interesses expressavam. E só as ideias que refletiam mais profundamente a realidade permaneceram no tesouro do pensamento social da humanidade e foram assimiladas pelas novas teorias que eram expressão dos imperativos da prática.

 

A doutrina marxista difere, pela sua natureza, das teorias que a procederam. “O marxismo não é um dogma morto, mas um guia para a ação”, dizia Lênin. Os princípios da teoria marxista enriquecem-se continuamente com a experiência do desenvolvimento social e as novas conquistas científicas. O marxismo é uma doutrina criadora em desenvolvimento.

 

No limite entre os séculos XIX e XX, a história entrou numa nova época. Lênin analisou profundamente a experiência prática da nova época histórica e o significado filosófico das grandes descobertas das ciências naturais, enriquecendo a doutrina de Marx com ideias novas. Deu um impulso à filosofia marxista, investigou as leis do imperialismo, fase superior do capitalismo, elaborou a teoria da revolução socialista, a estratégia e a tática do movimento operário internacional, a doutrina sobre o partido. Lênin desenvolveu o marxismo elevando-o a um novo nível, razão pela qual falamos de marxismo-leninismo.

 

Novas condições exigiram o prosseguimento do desenvolvimento do marxismo-leninismo, tarefa que é realizada, coletivamente, pelos partidos marxista-leninistas do mundo.

 

2.2 Representações Filosóficas do Mundo e seu Conhecimento

 

A palavra “filosofia”, traduzida do grego, significa “amor à sabedoria” e testemunha a necessidade do homem compreender a essência do mundo. Naturalmente, todas as ciências proporcionam conhecimentos do mundo, porém, todas as ciências concretas, quer a física, quer a biologia ou a história, estão limitadas a uma esfera da realidade. Por isso, surge a necessidade de uma ciência que dê uma concepção íntegra do mundo. 

 

Qual é a relação entre a consciência humana e a realidade que nos rodeia? Como explicar a ordem de sucessão em que se produzem os fenômenos da natureza? Que lugar ocupa o homem no mundo? De que modo o vai conhecendo?

 

Todas estas questões constituem o fundamento da concepção do mundo. A filosofia dá resposta a todas elas, generalizando as conquistas das ciências naturais e sociais.

 

Concepção de mundo é todo um sistema de representações e conceitos do mundo.

 

2.2.1 Matéria

 

Quando refletimos sobre o mundo que nos rodeia, surge a primeira questão filosófica, nomeadamente: O que é esse mundo?

 

Vamos passar, imaginariamente, uma vista de olhos pelos objetos e fenômenos da natureza. Há minúsculas partículas e gigantescos sistemas estelares, organismos simples unicelulares e seres vivos altamente organizados. Os objetos distinguem-se pelo seu tamanho, forma, cor, densidade, complexidade da sua estrutura, composição e por uma multidão de outras propriedades. A natureza apresenta uma extraordinária diversidade e tem as qualidades mais variadas. Será possível, no meio desta pluralidade, encontrar algo comum que una todos os fenômenos do mundo?

 

Desde tempos remotos, os filósofos e naturalistas empenharam-se em encontrar o fundamento de todos os objetos e fenômenos da realidade. Para um, era a água: a transformação da água em tudo e de tudo em água, segundo o antigo filósofo grego Thales. Outros pensavam que era o ar, o fogo ou a terra.

 

Demócrito, célebre filósofo da Grécia Antiga, pensava que todos os corpos eram compostos de ínfimas partículas indivisíveis, os átomos, aos quais considerava como “os primeiros tijolos” do universo, mas quando o átomo foi descoberto, os cientistas convenceram-se de que a sua estrutura era extraordinariamente complexa.

 

Depois do átomo descobriu-se o elétron, o próton, o nêutron e uma multidão de outras partículas “elementares”. Verificou-se que estas partículas são também complexas e que não se podem considerar “o material de construção” mais simples de que se compõem os corpos.

 

A riqueza inesgotável da natureza não pode ser reduzida a simples “primeiros tijolos”. Por mais ínfimos que sejam os elementos do mundo que o homem conseguiu conhecer, em todos eles se descobre, mais cedo ou mais tarde, a complexidade de sua estrutura interna.

 

Não obstante, todos os objetos e fenômenos da natureza, quaisquer que sejam a sua complexidade e as suas propriedades, têm algo em comum, algo que os une. Todos eles têm uma existência própria ou, falando em linguagem filosófica, um ser, e são para o homem objetos para os quais estão dirigidos o seu pensamento e a sua atividade prática.

 

Ser é a existência própria de cada objeto e fenômeno da natureza.

 

Todos possuem uma propriedade que é a de existir, independentemente, daquilo que deles se pense e de se neles pensamos ou não. Precisamente por isso, a filosofia marxista une-os a todos no conceito geral de matéria. Seria pueril procurar uma matéria “pura”, a matéria “em geral”. Esta existe sob a forma de uma multidão infinita de objetos e fenômenos concretos, cada um dos quais é uma partícula de um mundo material único.

 

O caráter material dos objetos do mundo exterior revela-se no fato de exercerem influência nos nossos órgãos dos sentidos, de se refletirem nas sensações. É evidente que nem todas as coisas se podem ver e tocar. As ondas de rádio não são tangíveis; o ouvido não capta as vibrações ultrassônicas; os órgãos sensoriais não captam o campo magnético. Descobrem-se com a ajuda de aparelhos e os dados científicos testemunham a sua existência. Por mais insólita que seja a forma tomada pela matéria, esta manifesta-se, em última instância, por meio das sensações. 

 

Segundo a definição de Lênin, a matéria é aquilo que, exercendo influência nos nossos órgãos sensoriais, causa sensações; a matéria é uma realidade objetiva que nos é dada pelas sensações.

 

Matéria é tudo que existe objetivamente, independentemente e fora da consciência.

 

A definição da matéria pode parecer demasiado abstrata àqueles que costumam tratar com ciências concretas, mas são assim os conceitos e as categorias filosóficas, não se prestando às definições a que estamos habituados noutras ciências.

 

Definir um objeto é, comumente, reuni-lo num conceito mais geral para indicar, depois, o seu aspecto distintivo. Quando se define, suponhamos um termômetro como instrumento que serve para medir a temperatura, indicamos o conceito genérico (aparelho), e o seu aspecto distintivo (para medir a temperatura).

 

Mas não é possível definir desse modo as categorias filosóficas, pois que estas são conceitos mais gerais, e não há, para defini-las, conceitos genéricos, ainda mais gerais. Daqui que os conceitos filosóficos se formulem de modo diferente dos das ciências concretas, através da sua relação com outros conceitos filosóficos, Neste caso, a matéria determina-se através da relação com a consciência. Matéria é tudo o que existe independentemente da consciência.

 

Lênin indicava que, no seu sentido filosófico, a única propriedade da matéria é a de ser uma realidade objetiva, a de existir fora e independentemente da nossa consciência.

 

Há que distinguir entre o conceito filosófico da matéria e as representações científico-naturais concretas acerca da sua estrutura e propriedades que se modificam e se aprofundam à medida que se desenvolvem as ciências naturais. E isso será sempre assim, pois que a matéria é inesgotável nas suas propriedades e manifestações e, portanto, o nosso conhecimento dela não tem limites.

 

Em contrapartida, o conceito filosófico fixa aquilo que é eterno, que permanece invariável por mais que se alarguem os conhecimentos científico-naturais.

 

O progresso da ciência amplia de ano para ano as nossas representações sobre a estrutura da matéria. No início do século XIX, conhecia-se uma forma de matéria, a substância, que possuía uma massa mecânica inalterável. Os físicos descobriram, mais tarde, outra forma de matéria, o campo eletromagnético.

 

E quando na confluência dos séculos XIX e XX se descobriu que a massa do elétron se modificava em função da velocidade do movimento, produziu-se a confusão entre os cientistas que ligavam o conceito de matéria ao da inalterabilidade da massa.

 

Aproveitando esta circunstância, alguns filósofos burgueses começaram a falar do “desaparecimento” da matéria. Lênin desmascarou as ideias contrárias à ciência demonstrando que aquilo que desaparece não é matéria, mas os limites dentro dos quais a conhecíamos. Tornou-se evidente que a propriedade anteriormente considerada como traço universal dos objetos materiais (a inalterabilidade da massa) não o era na realidade. Descobriu-se uma nova propriedade das partículas de matéria dotadas de movimento rápido, a mutabilidade da massa em função da velocidade do movimento.

 

Penetrando nos inabarcáveis espaços do universo e investigando os complexos processos internos do átomo, a ciência pode chegar a descobrir novas formas da matéria desconhecidas até agora, mas por mais surpreendente que sejam as suas propriedades, subsiste um fato inquestionável: todas elas existem como realidade objetiva, independentemente da consciência.

 

2.2.2 Movimento

 

Movimento é o modo de existência da matéria.

 

Observando a grande diversidade de fenômenos da natureza, é fácil perceber que, nela, tudo está em movimento e em constante mudança.

 

É impossível encontrar um objeto em estado de quietude absoluta. É certo que os corpos podem-se encontrar em estado de repouso, mas esse mesmo repouso é sempre relativo. Considerando mesmo a forma mais simples de movimento, a mecânica, não é possível encontrar objetos em estado de quietude absoluta e só se encontram em estado de repouso em relação a um determinado sistema de coordenadas. 

 

Por outro lado, operam-se, continuamente, nos corpos, mudanças físicas e químicas: o movimento dos átomos, moléculas e partículas elementares.

 

Mais intricado ainda é o movimento na natureza orgânica e na sociedade.

 

No organismo do homem e dos animais operam-se complexos processos fisiológicos. Com a evolução da natureza orgânica, umas espécies substituem outras. Na história humana, tem lugar um contínuo desenvolvimento e renovação de todas as esferas da vida social, a economia, a política, a cultura.

 

A atividade cognoscitiva do homem não se interrompe um único dia. Com o desenvolvimento das relações sociais, modifica-se o próprio homem, quer dizer, o seu modo de vida, as suas opiniões e ideias, os seus traços morais, o seu comportamento etc.

 

O mundo material aparece-nos como um grandioso quadro de movimento universal e de mudanças, no qual nada cabe de estático, de imutável, no qual nada está dado de uma vez para sempre.

 

O próprio fato da universalidade do movimento leva à ideia de que a matéria e o movimento estão, indissoluvelmente, vinculados, de que são inseparáveis. E, com efeito, a ciência moderna estabeleceu, de modo irrefutável, que não há matéria sem movimento.

 

Seja qual for o objeto ou fenômeno material que consideremos, a conclusão não se altera. Ser, existir, é encontrar-se em movimento.

 

O movimento concebido como mudança, como eterno processo de renovação, é um atributo inerente à matéria, inseparável dela, a sua forma universal de existência.

 

Do mesmo modo que a matéria não se concebe sem movimento, o movimento é inconcebível sem matéria.

 

Há entre alguns cientistas, entre físicos e filósofos, os partidários do chamado “energetismo”, que afirmam que a matéria pode transformar-se em energia pura.

 

Para o confirmar, evocam o fato estabelecido pela física de que o pósitron associado ao elétron transforma-se em raio luminoso. Percebe-se que aqui não se produz nenhuma destruição da matéria, mas sim se produz a transformação de uma forma de matéria em outra. A energia do raio luminoso tem também o seu portador material, o campo eletromagnético composto por fótons.

 

Energia é uma propriedade física dos objetos materiais.

 

Afirmar que a energia pode existir sem matéria, ou seja, à margem da realidade objetiva, é admitir o milagre capaz de criar o mundo do nada, mas isso é incompatível com a ciência que explica o surgimento do mundo de si mesmo.

 

Se dispusermos as formas fundamentais do movimento da matéria, por ordem de complexidade, obteremos a seguinte sucessão:

 

I - Forma mecânica de movimento – Deslocamento, no espaço, de corpos e partículas materiais; II - Forma física de movimento – Movimentos térmicos, elétricos, intra-atômicos e intranucleares; III - Forma química de movimento – Combinação e desagregação das moléculas; IV - Forma biológica de movimento – Funcionamento e desenvolvimento dos organismos; V - Forma social de movimento – Processos da vida social e do desenvolvimento da sociedade.

 

Todo um conjunto de ciências estuda cada uma das formas de movimento da matéria. Ao mesmo tempo em que descobrem os processos de movimento, mudança e desenvolvimento dos objetos materiais, as referidas ciências investigam as suas propriedades e estrutura.

 

Houve na história da ciência, e há ainda hoje, tentativas de reduzir as formas superiores do movimento da matéria a formas inferiores. 

 

Mecanicismo são as tentativas, na história da ciência, de reduzir as formas superiores do movimento da matéria a formas inferiores. Exemplos: Formas física e química ao deslocamento mecânico dos átomos ou das moléculas; Forma social à forma biológica (darwinismo social).

 

O mecanicismo conduz o pensamento científico a um beco sem saída, pois que toda a forma mais elevada do movimento da matéria, incluindo em si formas mais inferiores, tem, no entanto, os seus próprios traços, as suas peculiaridades que são o essencial para compreender esta forma de movimento da matéria.

 

2.2.3 Espaço e tempo

 

Espaço e tempo são formas universais de existência da matéria. A matéria não pode existir fora do espaço e do tempo. A matéria existe no espaço e no tempo.

 

O que é que designam estas categorias filosóficas?

 

Quando consideramos os objetos materiais, verificamos que todos têm uma dimensão, um volume, uma extensão, e que ocupam um determinado lugar entre os demais objetos, estão mais perto ou mais longe, mais alto ou mais baixo etc. uns dos outros. Isto quer dizer que os corpos existem no espaço.

 

Concepção filosófica de espaço consiste na extensão e na localização dos objetos do universo.

 

No quadro da sua existência, todos os objetos e fenômenos têm uma duração, certa sequência nas suas fases, uma ordem de sucessão. Isto indica que os objetos materiais existem no tempo. 

 

A concepção filosófica do tempo consiste na duração e na sequência de existência dos objetos e das suas propriedades.

 

Ao definir as categorias do espaço e do tempo, Engels dizia que ser no espaço significa existir “na forma de uma coisa mais tarde de outra”.

 

O espaço e o tempo são formas universais de existência da matéria. A matéria não pode existir fora do espaço e do tempo.

 

Certos cientistas ocidentais afirmam que no micromundo (no mundo dos átomos, núcleos e partículas elementares) o espaço não existe. Esta afirmação apoia-se no fato de certas “teorias dos quanta” não incluírem a noção de espaço como básica. No entanto, o que realmente daí advém é que tais teorias (como todas as teorias científicas) têm limites (elas não podem descrever toda a diversidade do mundo material) e que, no micromundo, o espaço é, aparentemente, pouco parecido com o nosso espaço terrestre.

 

Tal como a matéria, o espaço e o tempo são objetivos e independem da consciência. Importa assinalá-lo porque alguns filósofos (entre os quais figurou o notável filósofo alemão Immanuel Kant) pretendem demonstrar que o espaço e o tempo são formas da nossa consciência (e não da matéria) por meio das quais esta (consciência) põe uma certa ordem no completo caos de objetos do mundo exterior. Este critério é refutado pelo fato, estabelecido pela ciência, de que a natureza existiu no espaço e no tempo antes do aparecimento da humanidade na Terra.

 

Assim como a matéria não pode existir fora do espaço e do tempo, estes são inconcebíveis sem matéria. A compreensão disso não chegou de uma vez. No tempo de Newton, pensava-se que o espaço e o tempo eram “absolutos”, aliás, imutáveis nas suas propriedades em todo o Universo, independentes da matéria e de suas formas de existência. Mas a ciência encarregou-se de desmentir estes pontos de vista, demonstrando que a estrutura e as propriedades da matéria em movimento determinam a estrutura e as propriedades do espaço e do tempo. 

 

Já no século XIX, N. I. Lobatchévski, B. Riemann e V. Bolyai demonstraram que a par da geometria de Euclides, que estuda as propriedades do espaço terrestre, existe a geometria não euclidiana, que reflete as propriedades do espaço em outras condições (diferentes das da Terra). No século XX, a “teoria da relatividade”, elaborada por Einstein, confirmou a realidade das geometrias não euclidianas. É precisamente assim a geometria do espaço em escala astronômica e cósmica (em escalas dos sistemas celestes e do Universo). Ao mesmo tempo, a teoria de Einstein demonstrou que as propriedades do espaço e do tempo dependem das propriedades da matéria e do seu movimento. Assim, à medida que se intensifica a força do campo gravitacional (que se pode considerar uma das variedades físicas da matéria) ao aproximar-se de um objeto de massa enorme, como o sol, reduz-se o fluir do tempo, enquanto que o espaço “se curva” e, portanto, deixa de ser euclidiano.

 

O espaço e o tempo não dependem apenas da matéria, Encontram-se também na dependência um do outro. Esta dependência torna-se evidente na simples translação mecânica de um corpo. Para se saber onde se encontra a nave cósmica, é preciso conhecer, exatamente, o momento e, por outro lado, conforme a posição do sol no céu, podemos determinar o valor do tempo.

 

A relação ainda mais profunda entre o espaço e o tempo foi mostrada pela “teoria da relatividade”, a qual até introduziu a única noção de espaço-tempo tetradimensional (espaços de Minkowski). Segundo a teoria da relatividade, a ligação entre o espaço e o tempo revela-se, antes de tudo, pelo fato de a simultaneidade de dois acontecimentos dependerem do sistema espacial de coordenadas, dentro do qual se consideram tais acontecimentos. Portanto, dois fatos, simultâneos no sistema de coordenadas, ligados a, digamos, uma estrela imóvel, não são simultâneos em todos os outros sistemas de coordenadas que se movem em relação ao primeiro (por exemplo, para uma nave cósmica que passa perto da estrela). No entanto, este efeito só se torna evidente com velocidades próximas da velocidade da luz e, com efeito, pode ser observado quando se trata das partículas da radiação cósmica. 

 

Os dados obtidos pelas ciências naturais confirmam que a matéria se encontra, intimamente, ligada ao espaço e ao tempo.

 

A ciência e toda a experiência da humanidade provam que não há objetos nem fenômenos eternos. Até os corpos celestes, que existem durante milhares e centenas de milhares de milhões de anos, têm o seu princípio e o seu fim, surgem e desaparecem, mas a matéria, como tal, é eterna no tempo.

 

A matéria, como tal, é eterna no tempo.

 

Os objetos, destruindo-se, não desaparecem sem deixar rastro e, o que é principal, não perdem a sua propriedade básica que é a de existirem independentemente da consciência e serem, ao mesmo tempo, objeto desta.

 

A desintegração radioativa do átomo de um elemento dá lugar à formação de outros elementos e partículas libertadas. A desagregação das moléculas de uma substância dá lugar ao aparecimento de moléculas de outra ou outras substâncias. As gerações de organismos vivos sucedem-se umas às outras e a própria morte não implica o desaparecimento absoluto dos átomos e moléculas que compõem o organismo. A extinção de uma estrela não quer dizer que a sua substância desaparece sem deixar rastro.

 

A ciência, que descobriu as leis da conservação da matéria, confirma que esta, passando pelas mudanças mais diversas, jamais desaparece nem se aniquila. Do mesmo modo, a experiência multissecular da humanidade prova a impossibilidade do surgimento dos objetos materiais do nada e a sua transformação no nada. A matéria sempre existiu e sempre existirá.

 

A matéria é eterna, incriada e indestrutível.

 

Os ideólogos burgueses e certos cientistas estrangeiros têm procurado e procuram demonstrar a finidade da matéria no tempo e no espaço, recorrendo a diversas descobertas das ciências naturais.

 

Partindo do segundo princípio da termodinâmica, em meados do século passado, alguns cientistas chegaram à conclusão de que “a morte térmica do Universo” era inevitável. O erro de tal conclusão consiste em que a “tese do equilíbrio térmico”, que se deduz da segunda lei da termodinâmica, é correta em relação aos sistemas fechados e que contêm um número finito de partículas, mas estas condições não têm relação com o Universo no seu conjunto.

 

A matéria é infinita no espaço.

 

A matéria não é só eterna no tempo; é também infinita no espaço.

 

As descobertas das ciências naturais alargam, continuamente, as fronteiras espaciais do mundo conhecido. Os telescópios modernos permitem ver estrelas situadas a uma distância de dez bilhões e mais de anos luz.

 

Os aceleradores das partículas elementares permitem estudar distâncias, tão pequenas, que se tornam impossíveis observá-las, mesmo por meio de microscópio eletrônico. Em parte alguma, se encontram os limites do mundo.

 

Antes, não se distinguiam a ilimitabilidade e a infinidade do espaço. Isto tinha que ver com o fato de que o espaço euclidiano (bem como o tempo), no qual existem todas as coisas que nos rodeiam é, ao mesmo tempo, ilimitado e infinito.

 

Depois de descobertas as geometrias não-eclidianas, tornou-se claro que estes conceitos não são idênticos.

 

Por exemplo: para uns hipotéticos seres de duas dimensões que vivam na superfície da normal esfera tridimensional, o espaço será finito, mas o seu volume (neste caso, área da superfície da esfera) será finito.

 

Segundo a “teoria da relatividade”, pode ser que vivamos no mundo tridimensional que representa uma superfície fechada (ilimitada) da esfera de quatro dimensões, isto é, o seu volume é finito. Contudo, isto não quer dizer que o mundo material se reduza a esse espaço. A saída para além de seus limites pressupõe a existência de outras formas de realidade objetiva, isto é, da matéria.

 

A infinidade da matéria no espaço e no tempo deve-se considerar não em termos da infinidade métrica (infinidade das dimensões), que é um conceito geométrico, mas sim em termos da infinidade das manifestações, propriedades e estruturas da matéria em movimento.

 

Qualquer tentativa de demonstrar que a matéria tem um fim no espaço ou no tempo, é afastar-se da ciência e do senso comum, conduzindo ao misticismo e à religião.

 

2.2.4 Encadeamento universal e desenvolvimento dos fenômenos do mundo

 

2.2.4.1 O encadeamento universal dos fenômenos

 

O desenvolvimento da ciência, bem como a simples experiência humana revelam as estreitas ligações e o mútuo condicionamento dos mais díspares objetos e fenômenos.

 

Observe a folha verde de uma planta que é todo um combinado químico, no qual, graças à energia solar, o ácido carbônico se transforma e dá lugar ao oxigênio. Do oxigênio não podem prescindir nem os animais nem os homens.

 

Não era em vão que K. A. Timiriázev dizia que a planta é o intermediário entre o céu e a terra, o verdadeiro Prometeu que roubou o fogo do Céu.

 

De onde procede a energia dos raios do sol que infundem vida às plantas?

 

Esta energia é resultado de complexas transformações nucleares internas do sol, mas isto não explica tudo. As plantas necessitam, além disso, de um solo fértil que, por um lado, se formou no decurso do desenvolvimento da natureza orgânica, e por outro, é obra do homem com a ajuda dos adubos artificiais preparados pela indústria química. Para que as sementeiras cresçam bem é necessária a umidade, determinadas condições climáticas. Assim, no processo de encadeamento geral, entram também os fenômenos atmosféricos.

 

Seriam necessários muitos volumes para estudar as ligações de uma planta com o mundo circundante e o tema não ficaria esgotado, pois as ligações na natureza são inumeráveis.

 

A experiência secular da espécie humana e o desenvolvimento árduo e prolongado das ciências naturais e da filosofia demonstram que, por mais singulares que sejam os fenômenos e por mais isolados que pareçam, todos são manifestação de um mundo material único. 

 

Cada objeto está ligado por milhares e milhões de fios ao resto do mundo, formando, em definitivo, um processo único de encadeamento universal do todo com o todo.

 

As ligações entre os fenômenos do mundo material são extraordinariamente variadas. Se alguém se propusesse estudá-las todas, sem qualquer discernimento, ficaria literalmente esmagado perante a infinita diversidade de fatos isolados e casuais que em nada, ou muito pouco, ajudam a compreender o panorama geral.

 

O importante é descobrir, entre todo o conjunto de relações gerais, as mais essenciais e necessárias, as quais a ciência chama “regulares”.

 

Quando se estuda, a fundo, qualquer esfera do mundo que nos rodeia, achamos, no seu desenvolvimento, certa ordenação natural, uma regularidade, uma sequência e sistematização.

 

Consideremos, por exemplo, o movimento das pequenas partículas de tinta da China numa gota de água (movimento browniano). À primeira vista, aparece algo caótico e desordenado, mas há nele uma estrita regularidade, descoberta e formulada pela física molecular.

 

No final do século XVII e início do século XVIII, muitos naturalistas pensavam que, na natureza orgânica, não existia qualquer ordem, mas, já em meados do século XVIII, o médico e naturalista sueco Karl Von Lineu estabeleceu que a diversidade de formas da natureza orgânica apresenta certa sistematização. No século XIX, Darwin explicou com a sua célebre teoria a evolução das espécies. Para muitíssimos elementos químicos, é característico o rigoroso ordenamento revelado por Mendeleiev no seu sistema periódico.

 

Também a história humana apresenta uma ordem objetiva e uma sequência que tiveram expressão científica no marxismo-leninismo. 

 

Em qualquer esfera da realidade, existem estreitas ligações objetivas que permitem compreendê-la como um todo único e que determinam o caráter e a tendência do desenvolvimento. Essas ligações regulares expressam-se nas leis.

 

A ciência descobriu muitas leis da natureza, como por exemplo, as de Newton, Boyle e Mariotte, a da gravitação universal, as leis da eletricidade, as leis da reflexão e refração da luz, a lei de Avogrado, a lei periódica de Mendeleiev etc.

 

Que se entende por lei?

 

Consideremos a lei de Arquimedes, segundo a qual todo o corpo submerso num líquido perde o seu peso numa proporção igual ao peso do volume do líquido que desloca. É evidente, sobretudo, que Arquimedes expressa aqui a relação, a ligação entre os fenômenos (entre o corpo sólido submerso num líquido e o próprio líquido). Não há dúvida de que esta é uma relação objetiva, independente da nossa vontade ou consciência. De bom ou mau grado, há que contar com ela, tanto na construção naval como a cada passo na vida quotidiana, por exemplo, quando para pescar colocamos o chumbo na linha. É também evidente que a lei de Arquimedes não expressa, apenas, a relação particular de um corpo isolado com um líquido determinado, mas uma relação universal: a submersão de um corpo num líquido produz o efeito correspondente a esta lei. Trata-se de uma ligação essencial e necessária, porque revela uma relação muito importante entre os corpos e os líquidos que se manifesta, inelutavelmente, a cada vez que atuam um sobre o outro. Acrescente-se a isto que, por mais vezes que façamos a experiência, a lei se confirmará sempre, ou seja, expressa uma relação estável, constante, entre os fenômenos.

 

Lei é uma relação objetiva, universal, necessária e essencial dos fenômenos e objetos, que se caracteriza pela sua estabilidade e repetição.

 

As leis diferem entre si por serem comuns a um número maior ou menor de casos.

 

Algumas têm relação, apenas, com um número limitado de fenômenos: Ex: As leis da hidrodinâmica que caracterizam o movimento dos líquidos e não afetam, em nada, os corpos sólidos; As leis da atividade nervosa superior que regem, unicamente, nos organismos vivos dotados de cérebro.

 

Outras são comuns a determinadas formas do movimento da matéria ou à natureza em seu conjunto: Ex: Na física: As leis da conservação da energia; Na biologia: As leis do metabolismo.

 

Tanto as leis parciais como as gerais são objeto de estudo das ciências concretas.

As leis universais que expressam as ligações gerais da realidade, regendo todos os objetos e fenômenos, são estudadas pela filosofia.

 

2.2.4.2 Origem do movimento

 

Onde reside a fonte do movimento na natureza e na sociedade? Este problema tem preocupado os filósofos desde tempos remotos.

 

No caso do movimento mecânico dos corpos, a causa de seu deslocamento é um impulso externo. Talvez possamos admitir que a fonte do movimento, em geral, é o impulso que transmite o movimento de um objeto ao outro. Neste caso, há que admitir a ideia da existência de um impulso primeiro que inicia o movimento. Assim temos que, a princípio, a matéria estaria inerte até que apareceu uma força sobrenatural que a “impulsionou”.

 

Na natureza, dão-se, com efeito, impulsos exteriores, mas estes não fazem mais do que transmitir o movimento de um corpo a outro, não são a sua origem.

 

Isto quer dizer que essa origem deve ser procurada nos próprios fenômenos materiais, e não fora deles. 

 

Consideremos o princípio de funcionamento do motor a jato. Ao decomporem-se, as substâncias especiais escapam do motor com uma força imensa, atuando neste com a mesma força e em sentido contrário. É evidente que a existência das forças contrárias, o conflito entre elas é uma condição sine qua non para se poder voar. Este exemplo revela a causa interna do movimento dos corpos.

 

Todos os objetos materiais comportam aspectos contrários. Se alguns parecem absolutamente homogêneos é porque, até esse momento, os aspectos, elementos e tendências contrapostos permanecem ocultos aos nossos olhos, e basta penetrar mais profundamente nestes objetos para descobrir, neles, princípios contraditórios.

 

O simples movimento mecânico é inconcebível sem os contrários: I - Ação e reação; II - Atração e repulsão; III - Forças centrífugas e centrípetas;

 

O mesmo acontece com as formas físicas mais complexas do movimento, no qual, a cada passo, encontramos a polarização:

 

I - Das cargas elétricas positiva e negativa; II - Dos campos elétrico e magnético; III - Da substância e do campo; IV - O átomo consta de dois polos opostos: a carga positiva do núcleo e a envoltura de elétrons com cargas negativas; V - O núcleo do átomo é uma unidade de partículas contrárias. Para separá-las, é preciso gastar muita energia; VI - As formas fundamentais da associação químico-atômica e iônica baseiam-se também numa unidade de contrários.

 

Observemos a natureza orgânica. Também aqui se operam, em todos os organismos, processos contrários: I - Assimilação de umas substâncias e eliminação de outras; II - Criação e destruição de substâncias vivas; III - Assimilação e desassimilação.

 

Na sociedade existem, igualmente, forças contrapostas: Forças avançadas, revolucionárias e retrógadas, conservadoras.

 

Os aspectos contraditórios não estão isolados entre si, antes pelo contrário, manifestam-se num mesmo fenômeno, aparecem na sua unidade, pois não pode existir um sem o outro. Se na nossa imaginação separamos os contrários, por exemplo, a assimilação e a desassimilação, chega-se à conclusão de que tal coisa acarretaria a morte do organismo, quer dizer, a destruição do próprio fenômeno. De qualquer modo, e apesar de estarem, indissoluvelmente, unidos, não podem permanecer “em paz e concórdia”, precisamente, por serem antípodas.

 

Contradição é a relação que caracteriza a unidade dos contrários e, ao mesmo tempo, a luta contínua entre eles.

 

Que papel desempenhou as contradições no desenvolvimento?

 

Vejamo-lo na interação entre o caráter hereditário e, ao mesmo tempo, mutável dos organismos vivos. As plantas e os animais têm a faculdade de reproduzir a sua espécie, de transmitir os seus traços de geração em geração. No entanto, as condições de vida da descendência nunca são iguais às dos seus progenitores. A mutabilidade, quer dizer, o aparecimento nos descendentes de certos traços particulares que não se assemelham aos dos pais, produz-se por influência das mudanças nas condições do meio exterior. Como se pode apreciar, o hereditário e o mutável se contrapõem, e entre ambos surge, eternamente, uma contradição.

 

O mutável entra em contradição com o hereditário, aniquilando o seu conservadorismo e introduzindo, no desenvolvimento, elementos novos. O hereditário reafirma os traços úteis adquiridos, transmitindo-os à geração seguinte. Como consequência, aparecem novas espécies de animais e plantas. Produz-se uma evolução. Assim, a contradição entre o mutável e o hereditário é aqui uma das fontes do contínuo desenvolvimento da natureza orgânica.

 

Na vida social, a fonte mais profunda do desenvolvimento é a contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, o que na sociedade exploradora se manifesta nas contradições e na luta de classes. Esta questão considera-se, mais detalhadamente, nos capítulos posteriores.

 

Em consequência das suas contradições internas, os objetos materiais não podem se encontrar em estado de absoluto repouso. A luta dos contrários “agita-os”, não lhes permite deter-se, põe-nos em movimento.

 

A lei filosófica da unidade e luta dos contrários confirma que são as contradições internas a origem do movimento e desenvolvimento dos objetos e fenômenos.

 

2.2.4.3 Transformação da quantidade em qualidade

 

Todo o objeto tem, necessariamente, uma determinada qualidade que o distingue de outros e certa quantidade que o caracteriza do ponto de vista da sua dimensão, volume, peso etc. Consideremos, por exemplo, uma simples folha de alumínio: A massa atômica do alumínio é de 27; A carga do núcleo é de 13; O ponto de fusão é de 660º C. Isto define-o quantitativamente. Ao mesmo tempo, o alumínio é: Um metal branco prateado; Dúctil; Bom condutor de calor; Bom condutor de eletricidade; Trivalente nas combinações estáveis; Próximo, pela sua ação, dos metais alcalinos; Facilmente oxidável etc. Esta é a sua definição qualitativa.

 

Examinando as coisas mais de perto, apercebemo-nos, facilmente, de que a quantidade e a qualidade estão muito ligadas entre si. Esta vinculação revela-se com toda a clareza na química. Não foi por acaso que Engels considerou a química como a ciência das mudanças qualitativas que se operam nos corpos, por influxos das mudanças quantitativas.

 

Por exemplo: O oxigênio e o ozônio diferenciam-se pela sua composição química, apenas quantitativamente. Trata-se, no entanto, de substâncias diferentes que têm propriedades diferentes.

 

As combinações químicas da série homóloga do metano distinguem-se, entre si, pela quantidade de grupos CH2 que cada um contém.

 

Até que ponto isto influi na sua qualidade pode julgar-se pelo fato de que: I - Os quatro primeiros termos da série CH4 a C4H10 são gases; II - Os onze seguintes são líquidos; III - Os restantes, a partir do hidrocarboneto C16H34, são substâncias sólidas.

 

O sistema periódico dos elementos de D. I. Mendeleiev está constituído com base na relação das propriedades dos elementos químicos com as suas massas atômicas, e mais exatamente, da carga do núcleo do átomo. O aumento desta carga por unidade, ou dito de outro modo, a alteração do seu número dá lugar a uma nova qualidade.

 

Pode parecer que a mudança do aspecto quantitativo de um objeto não afeta, essencialmente, a sua qualidade. Assim, aumentar em alguns graus a temperatura de uma substância sólida não modifica o estado da matéria, mas se elevarmos ao ponto de fusão, a substância sólida torna-se líquida e se continuarmos a aquecê-la, até o ponto de ebulição, o líquido transforma-se em gás.

 

Mudanças quantitativas conduzem a mudanças qualitativas.

 

Esta transformação pode observar-se, claramente, no processo de desintegração radioativa da matéria.

 

A quantidade de energia que se desprende influi no estado do núcleo do átomo e os átomos de uma substância transformam-se em átomos de outra. Assim, da desintegração do rádio, pode formar-se o hélio. A absorção da energia, pelo núcleo dos átomos, leva também a mudanças qualitativas.

 

Cada elemento químico tem uma série de isótopos com carga idêntica e que ocupam o mesmo lugar no sistema periódico, que se distinguem entre si, quantitativamente, pelo peso atômico, ou mais exatamente, pelo número de nêutrons do núcleo do átomo.

 

Se ao núcleo do isótopo de peso atômico menor se junta um nêutron, o seu peso atômico aumenta em uma unidade, mas não se operam mudanças qualitativas profundas e as propriedades químicas fundamentais do elemento mantêm-se, mas se continuam a juntar-se, um a um, nêutrons ao núcleo do átomo, acabará por chegar-se ao isótopo mais pesado.

 

Que acontecerá se lhe acrescentarmos mais um nêutron?

 

Então, produzir-se-á uma mudança qualitativa: um dos nêutrons do núcleo transforma-se em próton, libertando um elétron. A carga do núcleo aumenta em uma unidade e tem lugar a transformação num novo elemento que ocupa o lugar seguinte no sistema periódico.

 

Por exemplo: Ao bombardear os núcleos do isótopo de urânio (urânio-238) com nêutrons, este transforma-se em neptúnio e o neptúnio em plutônio.

 

Na natureza orgânica, a transformação das mudanças quantitativas em qualitativas pode observar-se, por exemplo, na evolução das borboletas. Aqui se distinguem, claramente, uma série de fases qualitativas diferentes: Larva - crisálida - borboleta.

 

A passagem de uma fase a outra depende de determinados processos quantitativos no organismo do inseto. Também aqui, as mudanças quantitativas preparam as qualitativas.

 

Na sociedade, a relação entre as mudanças qualitativas e quantitativas é evidente no exemplo da cooperação do trabalho.

 

O agrupamento dos trabalhadores, numa coletividade, produz um efeito muito superior à soma aritmética das forças e capacidades individuais.

 

Outro exemplo palpável da passagem a uma nova qualidade no desenvolvimento social são as revoluções sociais, cujas premissas vão amadurecendo gradualmente no seio da sociedade.

 

Vemos, pois, que as mudanças quantitativas se transformam em qualitativas. Dentro de certos limites, tais mudanças parecem não influir na qualidade do objeto, mas isso é só até certos limites. Basta ultrapassá-los para que as imperceptíveis mudanças quantitativas se transformem em mudanças de qualidade, para que se produza o salto.

 

Salto é a transformação de uma qualidade em outra.

 

O movimento e as mudanças da matéria não são apenas o intercâmbio quantitativo de energia entre os corpos, não é um simples crescimento, mas um processo de transformação qualitativa da matéria e do seu desenvolvimento, de aparecimento de novos fenômenos.

 

A lei filosófica da passagem das mudanças quantitativas para qualitativas mostra como decorre o eterno processo de renovação do mundo material, os saltos, o fim daquilo que é caduco e o surgimento do novo. 

 

2.2.4.4 Do inferior ao superior, do simples ao complexo

 

O desenvolvimento da natureza e da sociedade avança numa direção determinada, ou move-se num círculo, repetindo eternamente o mesmo caminho, sem que, neste circuito fechado, se opere algum progresso?

 

Os dados que nos proporciona a ciência permitem deduzir que no desenvolvimento da vida material há progresso e avanços. Isto se vê, perfeitamente, na natureza orgânica. O próprio fato de esta aparecer, prova a capacidade da natureza para passar de formas inferiores, simples, inorgânicas, a formas superiores, orgânicas, mais complexas. O mundo dos seres vivos percorreu um longo caminho de desenvolvimento ascendente, desde as substâncias vivas não estruturadas e dos simples organismos unicelulares, até chegar ao homem. Cada etapa desta escala parecia negar a precedente, sendo por sua vez negada, mais tarde, pela etapa posterior. Operou-se uma singular negação da negação.

 

Na doutrina do desenvolvimento, a negação não significa a total destruição de tudo o que existiu no passado. Em primeiro lugar, os fenômenos mais simples subsistem, frequentemente, junto aos novos fenômenos mais complexos. Assim acontece na natureza orgânica, na qual, juntamente com os animais altamente organizados, continuam a existir outros muito simples.

 

Em segundo lugar, e isto é o essencial, no próprio processo de desenvolvimento progressivo, o novo que surge do velho assimila tudo quanto no velho há de positivo e valioso.

 

Na natureza orgânica, cada nova espécie apropria-se dos traços positivos acumulados pelos seus predecessores no processo do desenvolvimento evolutivo.

Na sociedade, nenhum regime social novo surge no vazio, mas da assimilação dos valores materiais e culturais criados em épocas precedentes.

 

A cultura socialista não pode surgir do nada. Para desenvolvê-la e fazê-la avançar é preciso enriquecer a memória com o conhecimento de todos os valores criados pela humanidade. 

 

Assim, a negação não é a ausência de ligações, de sucessão no desenvolvimento.

Os fenômenos que aparecem, em virtude de uma negação, conservam tudo aquilo que é valioso da fase anterior, sendo, ao mesmo tempo, uma coisa nova e mais rica em conteúdo.

 

Graças a isto, o desenvolvimento da natureza, da sociedade e do conhecimento não é a estagnação, mas o progresso, a marcha para diante.

 

Como aquilo que há de positivo nas fases inferiores do desenvolvimento se mantém nas superiores, na cadeia de negações consecutivas podem repetir-se alguns elementos do anterior desenvolvimento. Produz-se uma espécie de retrocesso ao velho numa fase mais elevada do progresso.

 

Um exemplo: No regime primitivo, dominava a propriedade social dos meios de produção, que foi negada, mais tarde, quando apareceu a propriedade privada e a exploração do homem pelo homem.

 

A propriedade privada é negada com a revolução socialista. Instaura-se, novamente, a propriedade social sobre os meios de produção, mas já numa base incomparavelmente superior à da sociedade primitiva.

 

Estes exemplos ajudam a chegar à conclusão que o desenvolvimento progressivo não é a ascensão retilínea, mas um complexo processo cíclico que recorda o movimento em espiral.

 

A lei filosófica da negação da negação revela o caráter progressivo do desenvolvimento, que decorre de forma ascendente, do inferior para o superior, do simples para o complexo. 

 

2.2.4.5 A dialética, ciência do desenvolvimento

 

A dialética, doutrina do encadeamento universal e do desenvolvimento do mundo, investiga as ligações mais gerais inerentes a toda a realidade e os traços, também, mais gerais do desenvolvimento.

 

A palavra “dialética” significou, inicialmente, a arte de discutir e descobrir as contradições nos argumentos do opositor.

 

Embora, hoje, se dê a este termo um sentido mais amplo, o núcleo da dialética, a sua essência, continua sendo a investigação das contradições da realidade.

 

A força interna, propulsora do desenvolvimento, são as contradições.

 

Lênin caracterizou do seguinte modo os traços essenciais da dialética: É um desenvolvimento que, ao que parece, repete etapas já percorridas, sobre uma base superior (“a negação da negação”), um desenvolvimento, por assim dizer, em espiral e não em linha reta; um desenvolvimento por saltos, catastrófico, revolucionário; “rupturas na continuidade”, a transformação da quantidade em qualidade; impulsos internos para o desenvolvimento originados pela contradição, pelo conflito das diversas forças e tendências que atuam sobre determinado corpo ou dentro dos limites de determinado fenômeno, ou dentro de uma dada sociedade; a interdependência, a ligação estreita e indissolúvel de todos os aspectos de cada fenômeno (a história, por seu lado, descobre, continuamente, novos aspectos), uma ligação que dá um processo de movimento único e universal, sujeito a leis: tais alguns aspectos da dialética como (...) doutrina do desenvolvimento.

 

Ao investigarmos o encadeamento universal e o desenvolvimento do mundo, a dialética determina o modo de encarar o estudo do mundo que nos rodeia, quer dizer, apresenta-se como método científico de conhecimento. Com efeito, se todos os fenômenos representam partículas do encadeamento universal do mundo em eterno desenvolvimento, decorre disto uma exigência indispensável do método científico do conhecimento: ao investigar um fenômeno qualquer, somos obrigados a examiná-lo através de suas relações mútuas com o mundo circundante em desenvolvimento.

 

Em outras palavras: para perceber a essência e o sentido de um fenômeno, é preciso aplicar o conceito histórico concreto. Esta exigência tem importância igual para todas as ciências. Na base deste exemplo, convencemo-nos da importância da filosofia, da dialética, para a pesquisa científica da realidade.

 

A ciência moderna descobre-nos, de um modo evidente, a enorme complexidade dos fenômenos da natureza e da sociedade. Acontece, frequentemente, que as novas descobertas não quadram (ser condizente) com os conceitos e esquemas habituais, exigindo um modo novo e criador de abordar, de elaborar as novas e “insólitas” ideias e teorias. Basta citar a teoria moderna das partículas elementares e a da relatividade. Poderíamos compreender estas novas descobertas da física do século XX se nos circunscrevêssemos às leis da mecânica clássica?

 

A dialética previne contra a unilateralidade e o ancilosamento mental, contra o dogmatismo e ensina-nos a não nos retrairmos perante as contradições, mas a estudar a natureza, a encontrar novas perspectivas, novas explicações mais profundas e completas das interligações que existem na natureza e na sociedade.

 

2.2.4.6 As categorias da dialética

 

A dialética, como todas as ciências, tem o seu conjunto de noções científicas ou de categorias. Diferentemente das ciências concretas, as categorias da dialética exprimem encadeamentos mais universais da realidade objetiva em desenvolvimento. Vamos abordar, sucintamente, algumas categorias da dialética:

 

I - O geral e o particular; II - Causa e consequência; III - Necessidade e casualidade; IV - Possibilidade e realidade; V - Conteúdo e forma; VI - Essência e fenômeno.

 

O geral e o particular: Cada objeto, cada fenômeno do mundo que nos rodeia, tem particularidades específicas que só a ele são próprias. É impossível encontrarmos dois objetos, absolutamente, iguais. Até folhas da mesma árvore distinguem-se por um ou outro indício.

 

Simultaneamente, não há no mundo objetos ou fenômenos que não possuam traços comuns com os outros objetos e fenômenos. As folhas de uma árvore, apesar das diferenças, têm índices comuns que permitem distingui-las das do outro. Por sua vez, todas as árvores têm, em si, alguns traços comuns que permitem uni-las na noção única de “árvore”. Por mais que se distingam por particularidades originais a incomparáveis vários objetos, todos eles são materiais e nisso reside o geral que lhes é inerente a todos.

 

O geral e o particular estão, estreitamente, interligados. O geral só existe no particular e por meio do particular. Todo o particular é, simultaneamente, geral.

 

Com efeito, a noção de “homem” é o geral que é inerente a todos os homens. Só existem pessoas concretas e cada indivíduo encarna, em si, a unidade do particular (traços específicos de Manuel, Antônio, Pedro) e do geral (o homem).

 

As categorias do geral e do particular ajudam a tomar consciência da unidade do mundo na sua diversidade. Estas categorias são também importantes para a compreensão do desenvolvimento de um ou outro fenômeno. Todo o desenvolvimento, quer da natureza, quer da sociedade, está ligado ao surgimento de algo novo, particular, mas ao mesmo tempo, realiza-se segundo leis comuns.

 

Causa e consequência: Estas categorias filosóficas manifestam-se em todas as esferas da realidade. A compreensão do seu sentido é indispensável nos estudos de qualquer ciência e na vida social. 

 

Quando um fenômeno causa outro, o primeiro chama-se causa e o segundo, consequência. Por exemplo: O aquecimento ou o arrefecimento de uma substância é a causa de mudança do seu estado de agregação.

 

Na vida real, o encadeamento de causas e consequências está longe de ser simples. A mesma causa pode provocar consequências diferentes em função das condições. Por outro lado, um ou outro fenômeno pode ser resultado de causas diferentes. Não se deve confundir a causa com o pretexto.

 

Por exemplo: O tiro em Sarajevo, em consequência do qual foi assassinado o herdeiro do trono austro-húngaro Francisco Fernando, foi o pretexto da Primeira guerra Mundial, mas as suas causas estavam enraizadas em contradições imperialistas.

 

A causalidade tem um caráter geral.

 

Não existem, nem podem existir fenômenos e acontecimentos sem causa. Esta conclusão prova-se com toda a história da ciência. Certamente, a humanidade conhecerá fenômenos cujas causas permanecerão, até certa altura, desconhecidas, porém, o aprofundamento do conhecimento (como já aconteceu várias vezes no passado) permitirá descobrir estas causas.

 

A revelação da relação causa-consequência é uma premissa indispensável para a investigação científica. Enquanto não for descoberta a causa de um fenômeno, permanece oculta a sua natureza.

 

Por exemplo: Na história da medicina, assim aconteceu com a tuberculose, quando foi descoberto o bacilo de Koch.

 

O processo do desenvolvimento é um encadeamento complexo de causas e consequências. Além disto, estas podem, frequentemente, permutar os lugares.

 

Por exemplo: A revolução burguesa francesa foi efeito do desenvolvimento do capitalismo no seio do feudalismo. Simultaneamente, foi a causa da consolidação da ordem capitalista.

 

A sucessão infinita de causas e consequências exprime a interação dos fenômenos do mundo. Lênin frisou que a causalidade representa “só uma pequena partícula do encadeamento universal”. Este encadeamento descobre-se com a ajuda de todo o conjunto de categorias filosóficas.

 

Necessidade e casualidade: Estas categorias são, totalmente, opostas. A necessidade e a casualidade estão, estreitamente, ligadas.

O necessário revela-se obrigatoriamente, exprime algo importante, essencial. O casual pode acontecer ou não, e não é fundamental para um ou outro processo.

 

Tendo caído, no solo, a semente germina. O processo do desenvolvimento da planta obedece às leis da biologia. É um processo indispensável, mas a sua realização concreta depende sempre de uma multidão de circunstâncias casuais.

 

Uma semente caiu em solo fértil, outra em solo árido. Uma planta tem abundante calor e umidade, cresce rapidamente e dá frutos. A outra se estiola e morre.

 

O processo biológico indispensável do nascimento, crescimento e desenvolvimento do organismo vegetal ou animal abre caminho por meio de múltiplas casualidades que o rodeiam.

 

A casualidade apresenta-se como uma forma de revelação e de complemento da necessidade. Vê-se, de modo evidente, na base de exemplos de muitas descobertas científicas. É do conhecimento comum que a radioatividade do urânio foi descoberta, casualmente, pelo cientista francês Becquerel. Sal de urânio, por mera coincidência, ficou no mesmo armário com uma chapa fotográfica. Todavia, é evidente que se não tivesse sido este caso, a radioatividade teria sido descoberta de qualquer outro modo. A descoberta foi preparada pelo desenvolvimento da ciência e tornou-se uma necessidade. Um ou outro caso levaria ao mesmo resultado.

 

Possibilidade e realidade: Estas categorias refletem o surgimento e o desenvolvimento dos objetos e fenômenos.

 

Os objetos não existem eternamente. As coisas podem surgir e tornar-se realidade só quando há as condições respectivas.

 

O conjunto das condições representa a possibilidade de surgimento do objeto.

 

Por exemplo: Há três ou quatro séculos, nas condições da sociedade feudal, era impossível passar ao socialismo, porque não havia as condições para isso. A possibilidade da transição ao socialismo somente apareceu com o desenvolvimento do capitalismo.

 

Geralmente, no processo do desenvolvimento surge não uma, mas várias possibilidades.

 

Por exemplo: Ao terminar o curso escolar, o graduando encontra-se perante o problema de qual das possibilidades deve escolher. Contudo, a amplitude dessas possibilidades não é, de modo algum, ilimitada. No nosso exemplo, limita-se pelo nível de formação, pela vocação e aptidões do graduando.

 

As possibilidades são várias, mas só se realiza uma dessas possibilidades.

 

Qual delas? Depende das condições do desenvolvimento e, na vida social, depende, num grau decisivo, da luta de classes, de partidos, pessoas, da sua iniciativa, atividade, capacidade de compreender e escolher a possibilidade mais favorável e realizá-la. 

 

Conteúdo e forma:

 

Qualquer objeto consiste em elementos determinados e decorrem, nele, vários processos.

 

Os elementos e processos compõem o conteúdo do objeto. Por exemplo: Um relógio tem várias peças e cada uma desempenha alguma função. O átomo é constituído por prótons, elétrons e nêutrons. Todavia, a simples soma das partes das quais é composto um objeto, ainda não o constituem. Se compusermos, em desordem, as rodinhas e espirais do relógio, elas não funcionarão. Para fazer um relógio, o relojoeiro tem que montar todas as peças numa ordem determinada e dar-lhes a estrutura correspondente.

 

O ordenamento dos elementos produz uma estrutura própria,

ou seja, a forma interior.

 

Conteúdo e forma estão interligados organicamente.

Um não pode existir sem o outro.

 

À primeira vista, pode parecer que, por vezes, a forma seja indiferente para com o conteúdo. Com efeito, de que maneira a capa do livro poderia exercer influência sobre o seu conteúdo? Porém, a dialética trata da forma interior e não da exterior. Ao falar de uma obra literária entendemos por forma as particularidades da língua e do estilo da obra, o sistema das imagens artísticas, nas quais o autor põe um conteúdo determinado de ideias.

 

No processo do desenvolvimento, o conteúdo desempenha o papel primordial.

 

A mudança do conteúdo acarreta a mudança da forma.

 

Por exemplo: No processo de evolução das espécies biológicas, primeiramente, mudaram-se, sob a influência de condições exteriores, as funções vitais de vários órgãos e, a seguir, a sua morfologia.

 

Essência e fenômeno:

 

Ao travar conhecimento com um objeto qualquer, apercebemo-nos, antes de mais nada, dos aspectos exteriores: a cor, as dimensões, a configuração etc. Só depois, como resultado de um estudo, penetramos nas mais profundas propriedades do objeto e começamos a perceber o seu sentido e destino.

 

Cada objeto apresenta-se como um fenômeno, como um conjunto de aspectos exteriores e, simultaneamente, possui a essência.

 

A essência caracteriza as propriedades essenciais do fenômeno.

 

Uma maçã aparece como um objeto que tem determinadas características exteriores e particularidades gustativas. Ao mesmo tempo, esta maçã é um fruto, que leva, em si, características genéricas e possibilidades de procriação da sua espécie.

 

A essência e o fenômeno não estão separados por um muro de pedra. Toda e qualquer essência sempre se revela. Cada fenômeno é essencial, isto é, exprime algo profundo na natureza da coisa.

 

Por exemplo: As características exteriores de uma substância apresentam-se como revelação da sua essência, das propriedades químicas que lhe são inerentes.

 

As categorias de qualquer ciência concreta são indispensáveis para a compreensão da forma do movimento da matéria da qual trata esta ciência, porém, as categorias da dialética são universais. É por isso que elas fazem parte do conteúdo do método de investigação científica, indispensável para todas as ciências.

 

O caráter dialético do mundo circundante exige conhecimentos de leis e categorias dialéticas. Sob essa condição, o próprio pensamento é capaz de tornar-se dialético e conceber o mundo em toda a sua complexidade.

 

O domínio do método dialético de pensamento é tanto mais necessário quanto a dialética é inerente não só ao mundo exterior, mas também à consciência humana, ao processo do conhecimento do mundo; no entanto, antes de passarmos a esta questão, convém compreender a natureza da consciência, a correlação do material e do espiritual (consciência).

 

2.2.5 Consciência, propriedade da matéria altamente organizada

 

Consciência é a propriedade de uma matéria altamente organizada (cérebro humano), isto é, uma propriedade cerebral que atua, reciprocamente, com o mundo material, tendo a faculdade de refletir o mundo exterior em imagens conceptuais (mentais, ideais).

 

Graças à consciência, o homem conhece o mundo circundante e organiza, racionalmente, sua atividade prática.

 

2.2.5.1 Não há consciência sem matéria

 

O mundo é material. E que lugar se reserva nele à consciência, ou seja, ao pensamento e aos sentimentos humanos? Não se pode considerá-los uma forma peculiar da matéria?

 

A consciência está relacionada com: pensamento, sentimentos e sensações.

 

Na história da filosofia, apareceram doutrinas segundo as quais o pensamento é um aspecto de uma matéria subtil. Tal como o fígado segrega a bílis, o cérebro segrega o pensamento. Assim diziam os filósofos desta corrente filosófica à qual se deu o nome de “materialismo vulgar”.

 

A consciência não é matéria, mas não tem existência fora da matéria.

 

Os corpos materiais possuem propriedades mecânicas, físicas ou químicas, enquanto que as sensações e o pensamento carecem dessas propriedades.

 

As sensações e o pensamento são o reflexo, no cérebro, dos objetos e fenômenos da realidade. São imagens subjetivas do mundo objetivo.

 

Mas, ao mesmo tempo, a nossa experiência e a informação científica provam que a consciência não pode existir fora da matéria. Ninguém se encontrou, em parte alguma, com sensações e conceitos que surjam por si, independentemente da matéria.

 

A consciência existe onde existe o cérebro do homem, que é o órgão do pensamento.

 

Uma lesão do cérebro pode trazer consigo o desequilíbrio mental. A ação sobre o cérebro de substâncias químicas como a “aminasina” ou a “reserpina” reprime os sentimentos de inquietação, medo e insegurança. Por outro lado, há substâncias que intensificam o medo ou provocam alucinações.

 

Estes fatos confirmam que a consciência é uma propriedade da matéria altamente organizada, do cérebro humano.

 

Em que consiste essa propriedade?

 

A própria noção de “consciência” induz a pensar que por meio dela conhecemos o mundo, compreendemos o que acontece à nossa volta.

 

A consciência não só pressupõe a existência do cérebro, mas, além disso, a existência dos objetos materiais que atuam sobre ele.  

 

Como explica a fisiologia da atividade nervosa superior a origem das sensações?

 

Qualquer fator do mundo exterior, como o raio de luz refletido por um objeto, atua sobre os órgãos sensoriais (os olhos, neste caso). A energia produzida pela irritação exterior transforma-se em excitação nervosa e, depois, em sensação, aparecendo a imagem dos objetos na consciência.

 

Imaginemos, por um instante, um cérebro que não recebesse qualquer sinal do mundo exterior. Por muito bem organizado que estivesse, não poderia surgir, nele, nenhuma sensação, nem qualquer pensamento. Desnecessário é dizer que semelhante cérebro não existe, mas dão-se casos de alteração das suas ligações com o mundo exterior: doentes cegos, surdos ou outros que perderam, quase por completo, a sensibilidade da pele. A consciência destas pessoas permanece inativa uma grande parte do tempo.

 

De certo modo, poder-se-ia comparar o cérebro a uma película que se filma com rapidez e que reflete um quadro da realidade. Basta tapar a objetiva da câmera, separá-la do mundo exterior para que a película fique limpa, sem qualquer imagem. Entende-se que esta analogia não pode ser tomada ao pé da letra. O reflexo dos objetos na película efetua-se segundo leis químicas e físicas, enquanto que o reflexo da realidade no cérebro do homem é um processo psicofisiológico e social, infinitamente, mais complexo.

 

Assim, a consciência não é, simplesmente, uma propriedade do cérebro, mas uma propriedade do cérebro que atua, reciprocamente, com o mundo material.

 

A consciência é a faculdade da matéria altamente organizada de refletir o mundo exterior em imagens conceptuais (mentais, ideais).

 

Graças à consciência, o homem conhece o mundo circundante e organiza, racionalmente, sua atividade prática.

 

2.2.5.2 Como o homem conhece o mundo?

 

Como é que se realiza o conhecimento do mundo exterior, das leis do seu desenvolvimento?

 

Desde os primeiros dias da sua vida, o homem começa a travar conhecimento com os objetos do mundo exterior. Uma criança vê, pela primeira vez, uma lâmpada elétrica. Imprime-se, na sua consciência, a primeira noção dela como fonte de luz. Na escola, estudando física e conhecendo, na prática, os fundamentos da eletrotécnica, o aluno aprende as leis da eletricidade, os princípios de funcionamento das máquinas elétricas. O volume de conhecimentos dele aumenta, de tal modo, que não lhe custará nada consertar um interruptor ou instalar a tomada de uma lâmpada de escritório. Ao terminar o curso, o jovem trabalha na produção, estuda eletrotécnica, fica conhecendo as últimas realizações neste domínio. É assim mesmo que se ampliam e aprofundam, permanentemente, os seus conhecimentos.

 

O caminho do conhecimento do mundo, percorrido pela humanidade, recorda, de certo modo, o caminho de desenvolvimento do indivíduo. Na Antiguidade, não se sabia nada acerca da eletricidade. As tempestades aterravam as pessoas, que as julgavam obra dos deuses enfurecidos. Não é por acaso que na mitologia grega se representa Zeus lançando raios sobre os insubmissos. Pouco a pouco, as ciências naturais foram acumulando dados sobre os fenômenos da eletricidade. Estudaram-se as propriedades de alguns corpos que se eletrizam por fricção e descobriram-se as leis da ação entre as cargas elétricas. Isto não se verificou sem erros. Pretendeu-se explicar o fenômeno da eletricidade pelo movimento de um “fluído elétrico” imponderável. Na primeira metade do século XIX, a ciência e a prática tinham acumulado dados suficientes para descobrir as principais leis da eletricidade. Na segunda metade do século XIX, o físico inglês James Maxwell elaborou a teoria do campo eletromagnético que reuniu as esferas, até então separadas, da eletricidade, do magnetismo e da ótica. O homem aprendeu a transformar a energia mecânica e térmica em eletricidade, e inversamente. Construíram-se as primeiras centrais e as primeiras máquinas elétricas. Tal como acontecera, anteriormente, com o vapor, a energia elétrica foi posta a serviço do homem, mas não se deteve, aqui, o processo do conhecimento. E já se abrem novos horizontes: a construção, em larga escala, das centrais atômicas, a criação dos geradores hidrodinâmicos, magnéticos etc. Passo a passo, o pensamento científico penetra na profundidade dos fenômenos.

 

O conhecimento não é um simples ato da reflexão espelhada no cérebro humano. É um complexo processo de movimento do pensamento que vai da ignorância ao saber; do incompleto e impreciso ao conhecimento, cada vez mais, completo e exato.

 

Do mesmo modo que o mundo é infinito, o pensamento não tem limites: é, também, infinito.

 

O conhecimento humano vai desde a observação à percepção sensorial, ou, como se diz em filosofia, da contemplação viva à descoberta teórica das leis e, depois, à sua aplicação prática. Tal é a trajetória do conhecimento da verdade, da realidade objetiva.

 

A verdade está relacionada com o conhecimento da realidade objetiva.

 

Os homens conhecem o mundo com a ajuda, sobretudo, dos órgãos dos sentidos: a visão, a audição, o tato, gustação ou paladar e o olfato que são os canais através dos quais captamos os conhecimentos, a informação sobre o mundo material.

 

Mas como se pode assegurar que as informações que recebemos através dos sentidos são fidedignas? Não se alterarão ao serem transmitidas?

 

Estamos seguros da veracidade das imagens sensoriais porque estas foram, reiteradamente, comprovadas pela experiência, pela atividade prática.

 

Pode-se imaginar o caos que significaria para a vida se as sensações e percepções das pessoas não refletissem, justamente, as propriedades dos objetos do mundo exterior. Seria, simplesmente, impossível orientar-nos no mundo que nos rodeia. É verdade que, por vezes, os sentidos “nos enganam”. Um lápis introduzido na água, até a metade, dá a sensação de estar quebrado, mas este engano é, também, o reflexo das propriedades reais dos fenômenos materiais. Neste caso, a refração dos raios de luz ao passarem de um meio menos denso para outro mais denso. Nas pessoas normais, os sentidos refletem, corretamente, os objetos do mundo exterior, pois os próprios órgãos sensoriais formaram-se no decurso da evolução da natureza orgânica como elementos de orientação, como meios para adaptar melhor o organismo às condições do meio ambiente.

 

A contemplação do objeto não dá, ainda, o conhecimento das leis internas do desenvolvimento. Se olha a copa de uma árvore, se toca os seus ramos e se escuta o rumor da folhagem, não se pode compreender, ainda, os profundos processos internos que se operam no verde das folhas por influxo dos raios solares. E a questão não está em que estes processos sejam invisíveis. Com a ajuda de um microscópio, pode-se penetrar na vida da folha, mas não se pode compreender só por observá-la.

 

E o que quer dizer compreender? Quer dizer descobrir as leis, distinguir, em todo o conjunto de complexas interligações, as leis essenciais. Neste caso concreto, as leis da fotossíntese.

 

Compreender é descobrir as leis e distinguir, em todo o conjunto de complexas interligações, as leis essenciais.

 

Esta é uma função que os sentidos não podem cumprir, pois, nas imagens sensoriais, os traços essenciais e os não essenciais aparecem fundidos.

 

Para estabelecer as leis de desenvolvimento, de qualquer fenômeno, é preciso interpretar e generalizar os dados obtidos através dos sentidos. Temos que compará-los, confrontá-los e distinguir o essencial. Aqui é necessário recorrer ao pensamento abstrato ou conhecimento lógico.

 

Sobre a base do conhecimento sensorial, o pensamento abstrato, ou conhecimento lógico, cria abstrações científicas, isto é, conceitos que expressam as propriedades e ligações essenciais dos corpos materiais. 

 

A física opera com os conceitos de velocidade, massa, energia etc. Todos eles são “abstrações científicas” e refletem o fato de que há corpos materiais que se movem, mais ou menos, rapidamente, que influem, em maior ou menor grau, sobre outros corpos. Tomemos, por outro lado, os conceitos de “valência”, na química, ou de hereditariedade na “biologia”. Eles significam que os átomos de várias substâncias se combinam em certas proporções e os organismos vivos transmitem certos indícios de geração em geração. O mesmo se pode dizer em relação aos conceitos filosóficos de “matéria”, “movimento” e “lei”. Ao elaborar os conceitos científicos e descobrir as leis, os homens de ciência separam, mentalmente, as propriedades e relações essenciais dos corpos materiais, “abstraindo-as” dos referidos corpos. É o “pensamento abstrato”.

 

A abstração científica permite penetrar mais na realidade. Fazendo abstrações de numerosos traços e propriedades não essenciais de um objeto, temos a possibilidade de conhecê-lo a fundo, na sua essência. Isto ajuda-nos a orientar-nos no conjunto dos fenômenos e descobrir as suas leis.

 

Referindo-nos, por exemplo, à lei de Boyle e Mariotte, fazemos abstração das particularidades específicas de um ou outro gás, da forma do recipiente que o contém etc. No entanto, descobrimos uma correlação, muito importante, entre a pressão e o volume do gás, que permite conhecer, mais profundamente, as propriedades dos gases.

 

O pensamento abstrato é um poderoso instrumento do conhecimento.

 

Graças a ele, pôde surgir a ciência que explica, ao homem, os fenômenos que ele não compreende, descobrindo as leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade.

 

2.2.5.3 Linguagem e pensamento

 

O pensamento abstrato está, indissoluvelmente, ligado à linguagem. Quando o homem deseja expressar os seus pensamentos, faz por meio de palavras. Pode-se pensar sem falar em voz alta, mas, mesmo neste caso, o pensamento reveste-se com o invólucro verbal, como se falasse consigo mesmo. Frequentemente, faltam, ao homem, as palavras para expressar os seus sentimentos. Todos o temos observado nos momentos de grande emoção. Se não se encontram palavras para expressar aquilo que se pensa, quer dizer que as ideias não estão ainda claras.

 

O que é que explica a unidade da linguagem e do pensamento?

 

O fato é que o pensamento abstrato, desde o princípio, é um produto social que surgiu no processo do trabalho dos homens em comum. Trabalhando, em conjunto, os homens sentem a necessidade de coordenar os seus atos, de trocar a experiência e os conhecimentos acumulados. Desta necessidade, nasce a linguagem articulada, a língua como meio de comunicação e de confirmação, mediante a palavra, dos conhecimentos, da realidade circundante, que os homens adquirem com o trabalho.

 

Sem sair do seu quarto, uma pessoa pode ler, no livro, a palavra “incêndio”, ou ouvir como o locutor a pronuncia pela rádio. Embora, não haja à sua volta fogo, nem rescaldo, nem crepitação das vigas ardendo, isto é, não haja nada que possa, por meio de uma ação direta, provocar, na consciência, a imagem de incêndio, mesmo assim, compreende-se, com clareza, do que se trata.

 

Por que é que uma palavra, influindo sobre a audição ou a vista, provoca, na consciência, uma ideia bem clara?

 

O fato é que no curso da história multissecular, os homens encarando, reiteradamente, na sua atividade prática, os fatos de incêndio, separaram os traços gerais deste fenômeno, elaboraram a respectiva noção e associaram-na à palavra “incêndio”. Ao estudarmos a língua, assimilamos os conhecimentos acumulados por muitas gerações de homens que viveram antes de nós. É por isso que qualquer palavra não é um mero som. Ela tem certo significado que podemos perceber ao ouvir essa palavra. 

 

Os dados que nos fornece a fisiologia da atividade nervosa superior e as obras do cientista russo I. P. Pávlov sobre o segundo sistema de sinais, no qual a palavra serve de irritante, corroboram a unidade entre o pensamento e a linguagem.

 

Esse sistema de sinais é inerente, apenas, ao homem. Não o têm os animais, motivo pelo qual estão privados da capacidade de pensamento abstrato.

 

Se a linguagem não existisse, ninguém poderia ler, estudar, cultivar o seu espírito (consciência) com os valores que a humanidade foi reunindo passo a passo. Sem ela, o homem careceria de meios para assegurar a estabilidade e a continuidade da atividade cognoscível, e a sua consciência seria um pouco diferente da “psique” dos animais altamente organizados.

 

Compreende-se, facilmente, que o homem que, por qualquer circunstância, se encontrasse, desde a sua infância, isolado de outras pessoas, sem poder aprender a falar, não poderia desenvolver a sua capacidade de pensamento abstrato.

 

Por exemplo: Na Índia, foi encontrada uma menina que, logo depois de nascida, foi raptada por uma loba. Durante anos, a criatura viveu entre uma matilha de lobos. Não sabia falar e, como é natural, carecia, totalmente, de pensamento humano.

 

A linguagem é um meio inestimável para conservar, transmitir e aumentar o caudal do saber humano.

 

2.2.5.4 A verdade e o critério da verdade

 

O objetivo do conhecimento humano é chegar à verdade, o que torne possível orientar-se, acertadamente, no meio ambiente e modificá-lo de acordo com as necessidades do homem.

 

O que se entende por verdade?

 

Não houve filósofo que não se fizesse esta pergunta. Os melhores pensadores do passado consagraram-se procurando a verdade e o modo de chegar a ela.

Na sua forma mais geral, a ciência entende, por verdade, a afirmação que expressa, corretamente, a realidade, uma propriedade ou lei dessa realidade.

 

Estabelecer se uma afirmação corresponde ou não à verdade, já é uma questão mais complexa. Para estarmos certos da veracidade dos nossos conhecimentos, é necessário um critério (medida de avaliação) que confirma a sua justeza.

 

Não é raro encontrar pessoas que sustentam acaloradas discussões. Todas estão convencidas da sua razão, e cada uma considera que a sua opinião é que está certa. Quem decide? Como distinguir, com certeza, a verdade do erro?

 

Quando os cientistas e inventores discutem entre si, recorrem à experimentação.

 

Se, baseando-se em investigações teóricas, um cientista afirma que a liga de certos metais terá tais propriedades, é fácil comprovar suas conclusões. Terá que obter, no laboratório da fábrica, essa liga. Se possuir as propriedades anunciadas, quer dizer que o cientista tem razão. Se não as tiver, significa que se enganou.

 

A veracidade do sistema periódico de D. I. Mendeleiev ficou demonstrada quando se encontraram os novos elementos, cuja existência e propriedades haviam sido prognosticadas com base no referido sistema.

 

Os voos dos satélites artificiais da Terra e das naves cósmicas, realizados com êxito, confirmam, na prática, a veracidade dos cálculos teóricos feitos pelos cientistas e engenheiros que se ocupam da exploração do espaço cósmico.

 

O mais seguro critério da verdade é a prática social, isto é, a atividade dos homens para transformar o mundo.

 

Se as ideias e teorias conduzem à consecução, com a sua ajuda, dos fins propostos, então, é porque encerram uma verdade e refletem, adequadamente, as leis da realidade. 

 

A prática é o critério da verdade.

 

A prática é o critério da verdade não só em relação às teorias das ciências naturais. A história tem conhecido muitas teorias sociais e políticas que continham inúmeras conclusões e hipóteses justas, mas que, no seu conjunto, não suportaram a prova da prática.

 

Somente a Teoria Marxista-Leninista tem sido corroborada pela prática do desenvolvimento social, pela prática do movimento revolucionário internacional e pela prática da edificação do socialismo, objetivando a sociedade comunista.

 

2.2.5.5 A prática como base do conhecimento

 

A prática não é só o critério da verdade. É também o ponto de arrancada do conhecimento.

 

O próprio imperativo de conhecer a verdade nasceu das necessidades práticas do homem. Desde então, e até aos nossos dias, a prática apresenta ao conhecimento uma determinada missão.

 

F. Engels dizia que quando surge, perante a sociedade, uma exigência técnica, esta impulsiona a ciência para diante, mais que dezenas de universidades.

 

O poder da razão humana encaminha-se, em primeiro lugar, para os problemas gerados pelas exigências da prática.

 

O próprio conhecimento é inconcebível sem a prática. Se os homens observassem, meramente, o mundo circundante, sem participarem, na prática, de seu desenvolvimento, então, não poderia conhecer as leis do desenvolvimento dos fenômenos materiais.

 

Não é por acaso que a experimentação é um poderoso meio de investigação científica da natureza. Não se concebe o estudo das partículas elementares ou da estrutura do núcleo do átomo sem um ingente trabalho experimental. Complexos aparelhos empregados pelos cientistas são produto da prática, da indústria moderna.

 

É certo que a dependência da ciência em relação à prática nem sempre é direta. Muitas vezes, as investigações teóricas fundamentais, principalmente, certos domínios das matemáticas superiores e da física teórica, dão a impressão, à primeira vista, de estarem desvinculadas da prática e de não prometerem um resultado prático direto. No entanto, elas dimanam das conquistas científicas precedentes, estão condicionadas pela prática e preparam o terreno para futuras realizações práticas do homem.

 

Também, as ciências sociais se desenvolvem com base na prática.

 

O desenvolvimento criador da Teoria Marxista-Leninista é fruto da análise das leis de desenvolvimento do mundo contemporâneo.

 

Assim, a prática desempenha um papel primordial no conhecimento. É a sua base. Na prática, demonstra-se a capacidade dos homens para conhecer o mundo e descobrir as suas leis de desenvolvimento.

 

A matéria é infinita e inesgotável, motivo pelo qual haverá sempre fenômenos ainda não conhecidos, mas não há fenômenos incognoscíveis.

 

Coisas que, ontem, não se sabiam, hoje, conhecem-se perfeitamente. Problemas em torno dos quais se atarefa, atualmente, o pensamento científico, serão resolvidos amanhã com base nas novas conquistas práticas.

 

A própria prática não é também uma coisa estática, dada de uma vez para sempre. Ainda, há pouco tempo, o homem não podia ultrapassar os limites da atmosfera terrestre. Hoje, os satélites artificiais da terra e as naves cósmicas sulcam o espaço interplanetário. À medida que avança, a prática abre novas perspectivas para aprofundar o conhecimento do mundo.

 

A prática rejeita, categoricamente, o relativismo e o dogmatismo na teoria do conhecimento.

 

Os relativistas afirmam que, no conhecimento que o homem tem do mundo, tudo é relativo, que nada é estável e permanente; o que, ontem, parecia verdade, hoje, se revela falso. O relativismo contradiz a prática. Uma vez que a ciência descobriu as leis profundas de um fenômeno, e que estas foram confirmadas pela prática, isto significa que são justas, e serão enquanto os referidos fenômenos subsistirem.

 

Os dogmáticos asseguram, pelo contrário, que estes conhecimentos são imutáveis. Assim, uma vez descobertas as leis, não há mais que aprendê-las. Aplicam-nas, mecanicamente, à realidade, em qualquer circunstância, como se tratasse de um padrão.

 

O dogmatismo contradiz, igualmente, a prática. Não tem em conta que o nosso conhecimento dos fenômenos não esgota jamais a sua riqueza.

 

O conhecimento desenvolve-se e aprofunda-se com a prática.

 

As leis da mecânica clássica, descobertas por Newton, são verdades confirmadas, reiteradamente, pela prática. No entanto, quando no século XX, a humanidade iniciou o estudo de velocidades próximas da luz, revelou-se que as leis de Newton eram apenas casos particulares de outras leis mais gerais descobertas por A. Einstein. Não é que, depois disto, as leis da mecânica clássica se tenham tornado falsas, pois elas continuam refletindo, com justeza, a interação mecânica dos corpos com velocidades, relativamente, pequenas. Agora, os nossos conhecimentos são mais profundos e refletem leis mais gerais da interação dos corpos a qualquer velocidade, incluindo aquelas próximas da velocidade da luz.  

 

Nos conhecimentos científicos há sempre um sólido núcleo que continua a ser verdadeiro, mas este núcleo não é imutável, pois com os avanços do conhecimento acumula novas deduções e conclusões.

 

A chave para compreender a atividade da consciência e a sua enorme função transformadora é a unidade entre a teoria e a prática.

 

A consciência não é, longe disso, um reflexo passivo da realidade exterior. Irrompe no mundo e o transforma mediante a atividade prática dos homens.

 

Olhemos à nossa volta. Ao lado dos objetos dados pela própria natureza, há muitas coisas que são produto do trabalho criador e da inspiração do homem. Até a própria natureza (os bosques e prados, os campos, a atmosfera terrestre) se transforma por influxo da prática social. O sentido e a razão suprema do surgimento da consciência é transformar a realidade no sentido que convém ao homem. A consciência não só reflete o mundo, como o cria. Nunca satisfeito com o que o rodeia, o homem modifica a realidade objetiva. A ação da consciência humana manifesta-se, claramente, na vida social.

 

2.2.6 Materialismo e idealismo, duas linhas da filosofia

 

Anteriormente, foi exposta, em traços gerais, a doutrina filosófica marxista do mundo e de seu conhecimento.

 

Qual é o lugar que esta doutrina ocupa entre as outras teorias filosóficas e qual a relação que ela tem com a luta de classes e com a política?

 

2.2.6.1 A forma superior do materialismo

 

Como dissemos, o que caracteriza, essencialmente, a doutrina filosófica do marxismo é que explica o mundo por si mesmo. A natureza, o ser, toma-se tal como é na realidade.

 

SER é um conceito filosófico que serve para designar a natureza, a matéria, o mundo exterior, diferentemente da consciência, do pensamento.

 

A doutrina que considera o mundo como um todo material, que tudo explica a partir da matéria, denomina-se materialismo.

 

A forma superior do materialismo é a filosofia marxista.

 

O materialismo tem uma história de séculos. Surgiu, já na Antiguidade, como doutrina filosófica. O mais conhecido dos antigos filósofos materialistas foi Demócrito. Daí que a orientação materialista, em filosofia, passou a chamar-se de “linha de Demócrito”.

 

Sendo justa a visão geral do mundo dos antigos materialistas, as suas concepções concretas, como vimos ao referir-nos aos seus pontos de vista sobre a constituição da matéria, distinguiam-se pela sua ingenuidade. E não podia ser de outro modo, pois o antigo materialismo não se baseava nas ciências concretas, já que estas se encontravam ainda em embrião.

 

Nos séculos XVII e XVIII, apareceu uma nova forma de materialismo que tendia unir todos os conhecimentos e dotava a ciência de um método de estudo da natureza. A filosofia materialista deste período foi exposta, de modo mais completo, nos trabalhos dos materialistas franceses Denis Diderot, Paul-Henri Holbach, Claude Adrien Helvetius e outros. Defenderam, com paixão, os princípios do materialismo e combateram o obscurantismo e a religião, mas a explicação materialista de processos complexos, tais como os das sensações, nesse tempo, era ainda insuficiente. De todas as ciências de então, a que mais tinha evoluído era a mecânica, o que explica o caráter mecanicista do materialismo que, de fato, reduzia todas as leis do mundo às leis da mecânica. O escasso desenvolvimento da ciência deu lugar a outra carência do materialismo dos séculos XVII e XVIII. Não pôde levar, até o fim, a ideia do desenvolvimento do mundo e do entrelaçamento de todos os fenômenos, ou seja, era metafísico, como se diz em filosofia.

 

A metafísica não leva em consideração a ideia do desenvolvimento do mundo e do entrelaçamento de todos os fenômenos.

 

Este materialismo era, além disso, contemplativo, pois não discernia o papel da atividade prática revolucionária e transformadora dos homens.

 

A filosofia marxista continuou com as tradições materialistas da história do pensamento filosófico, superando, ao mesmo tempo, os defeitos e as limitações do materialismo pré-marxista, sobretudo o seu caráter metafísico.

 

A doutrina filosófica marxista considera o mundo em estado de contínuo movimento e desenvolvimento, no decurso do qual, todos os fenômenos se entrelaçam e atuam uns sobre os outros.

 

Isto significa que, na filosofia marxista, o materialismo liga-se, organicamente, à dialética, pelo que a “filosofia marxista” recebeu o nome de “materialismo dialético”.

 

Não é difícil compreender os interesses de quem expressa o materialismo. A filosofia materialista está, estreitamente, relacionada com as ciências naturais e orienta-se para o estudo da natureza. Está a serviço das classes sociais interessadas em ter um conhecimento científico do mundo e em utilizá-lo em benefício do progresso. O materialismo é, comumente, a filosofia das classes avançadas e progressistas da sociedade. Ele representa a linha principal, a linha progressista na filosofia. Foi assim no passado, é assim hoje.

 

A classe mais avançada e progressista da sociedade contemporânea é a classe operária, o proletariado. Para lutar contra o capitalismo e construir a sociedade comunista, esta classe tem a necessidade de uma concepção clara e científica do mundo, razão pela qual, o materialismo dialético é o fundamento filosófico da concepção do mundo da classe operária. 

 

2.2.6.2 O idealismo e suas raízes

 

Além do materialismo, existe outra linha, outra corrente filosófica que é conhecida por idealismo.

 

Os idealistas consideram que, no mundo, o fator principal é o espírito, a ideia. Em oposição aos materialistas, negam-se, desde o princípio, a explicar a natureza, a matéria, o Ser, por si mesmos. Para eles, a consciência, a razão, Deus, são os criadores da natureza, da matéria.

 

Tal como o materialismo, a filosofia idealista surgiu na Antiguidade. O seu representante mais notável foi Platão, que afirmava que os objetos do mundo exterior não existem por si, que são o pálido reflexo do que está mais além, do mundo das ideias. A corrente idealista, em filosofia, tomou o nome deste filósofo, chamando-se “linha de Platão”.

 

O idealismo divide-se em duas tendências fundamentais:

 

I - Idealismo subjetivo; II - Idealismo objetivo.

 

Os idealistas subjetivos consideram que todos os objetos e fenômenos do mundo exterior são produto da consciência do homem.

 

“O mundo é o conjunto das minhas sensações”. O sentido do idealismo subjetivo se reduz a isto.

 

Partidário do idealismo subjetivo foi George Berkeley, filósofo inglês do século XVII. No século XX, o idealismo subjetivo alargou-se, tomando a forma de machismo, energetismo, positivismo, existencialismo e outras correntes filosóficas.

Os idealistas objetivos afirmam, por seu lado, que o mundo material é produto de uma suposta razão universal que existe fora da consciência do homem. 

 

Além de Platão, o representante mais notável do idealismo objetivo foi Hegel.

 

As ciências naturais e a prática humana refutam o idealismo.

 

Estas ciências mostram, atualmente, que a Terra, a Lua e o Sol existiam muito antes do homem e de qualquer outro ser dotado de “psique”.

 

Não é este um argumento, de peso, que confirma a independência do mundo exterior em relação à consciência do homem?

 

A ideia da razão universal, do “criador do mundo”, entra também em contradição flagrante com a concepção científica do mundo. A ciência demonstrou que a consciência é produto da matéria altamente organizada do cérebro. O homem empreendeu o domínio do Cosmos, penetra nos segredos do micromundo, sem encontrar, em parte alguma, indícios de atividade da razão universal. Todos os fenômenos se explicam por causas naturais.

 

Conversando, em certa ocasião, com o célebre astrônomo Laplace, Napoleão perguntou-lhe por que não falava, nunca, de Deus nas suas obras. “Não tive necessidade de recorrer a esta hipótese”, respondeu o sábio. Desde então, a ciência fez muitas descobertas, progredindo consideravelmente.

 

O idealismo subjetivo reduz o mundo às sensações.

 

Com efeito, estas (as sensações) desempenham um grande papel no conhecimento, mas não se deve esquecer que as sensações são, só, uma parte deste processo, canais de ligação da consciência com a realidade, que elas entram em interação com o pensamento abstrato e a prática. Se as separarmos de todo o processo, da fonte material, pode concluir-se que estas são a única realidade. É isto, precisamente, o que fazem os idealistas subjetivos. Dizem que as sensações são “os elementos” do mundo. Disso resulta que as sensações não são, de maneira alguma, o reflexo das propriedades das coisas reais, mas existem por si, e que as pessoas tomam-nas, ingenuamente, por objetos do mundo exterior. Essas são as raízes do idealismo subjetivo no conhecimento. 

 

Do ponto de vista científico, as sensações são os reflexos das propriedades das coisas reais.

 

O idealismo objetivo reduz o mundo a ideias, conceitos gerais existentes fora dos fenômenos materiais e independentes deles.

 

Os conceitos gerais, como as sensações, são indispensáveis no processo do conhecimento. Sem eles, o pensamento e a ciência não seriam possíveis.

 

Por exemplo: Consideremos uma “fruta”. O conceito geral é uma abstração, a segregação mental dos traços comuns inerentes às maçãs, peras, laranjas. Contudo, não se deve esquecer, de modo nenhum, que os traços gerais que dão o conteúdo da abstração não existem por si, à margem das coisas.

 

Os traços gerais que dão o conteúdo da abstração não existem por si, à margem das coisas.

 

Esquecendo-o, poder-se-ia, facilmente, pensar que, além das maçãs, peras e laranjas, existe a “fruta” em geral e que, precisamente, este conceito é a base primeira real de todas as frutas em separado, a sua causa primeira ideal.

 

Pode-se imaginar que os conceitos gerais existem, originariamente, por si, ou como manifestação da razão universal, da ideia absoluta e geram as coisas materiais. Tais são as raízes do idealismo objetivo no conhecimento.

 

Por que existe o idealismo e por que influi na consciência de muitas pessoas? Até entre homens de ciência tem os seus adeptos.

 

Não obstante, o problema não assenta apenas na complexidade e no contraditório do processo do pensamento. O idealismo tem também as suas causas no conhecimento humano e nas condições sociais. 

 

O conhecimento científico das leis do mundo serve o progresso social, por isso, as classes em declínio agarram-se ao idealismo que afasta os trabalhadores da solução das tarefas práticas, levando-os para o campo das abstrações. As classes caducas propagam e sustentam as doutrinas idealistas e nisso reside a causa principal da persistência do idealismo. Isso explica a abundância de teorias idealistas que se multiplicam no mundo capitalista.

 

O caráter anticientífico do idealismo manifesta-se, claramente, na sua afinidade com a religião. Da mesma forma que o idealismo, a religião coloca, na base da realidade, uma força espiritual.

 

Nas primeiras etapas do desenvolvimento da sociedade humana, a religião surgiu como resultado da impotência do homem perante a natureza. Sem conhecerem as leis naturais, sem saber dirigir as coisas, os homens começaram a atribuir inteligência a objetos, a endeusá-los. Nasceram então as primeiras noções religiosas, das quais, se desenvolveu a mitologia, fonte principal dos dogmas fundamentais da religião.

 

O endeusamento de objetos e fenômenos do mundo circundante, desde o princípio, traduziu a escassez, carência das relações entre homens e da sua atitude para com a natureza. A dominação das forças naturais e sociais sobre os homens adquiriu, na sua consciência, a forma de representações fantásticas sobre Deuses que governariam o mundo.

 

Com o surgimento da sociedade de classes e da exploração do homem pelo homem, a religião obteve uma base mais sólida. A subjugação social das massas trabalhadoras tornou-se uma das mais profundas raízes da religião.

 

A fé em forças sobrenaturais, em Deus onipotente, compensou, de uma forma ilusória, a justiça e a benevolência inexistentes na vida real, cheia de trabalho árduo e de sofrimentos sem fim. “A alma de um mundo desalmado”, foi assim que K. Marx determinou o sentido desta função da religião.

 

A religião pretende desempenhar um papel de consolador de sofredores e infortunados. Durante muitos séculos da sua existência, a religião elaborou todo um sistema de meios eficazes de influência sobre os sentimentos humanos. Até a arte tem sido utilizada por ela, como a música e a pintura religiosa, exercendo uma forte pressão na mentalidade dos crentes.

 

Em tempos passados, a Igreja perseguiu os cientistas e muitos cientistas eminentes sucumbiram nas mãos do clero. Atualmente, os eclesiásticos já não costumam negar a ciência, dizendo que foi Deus quem dotou o homem da faculdade de conhecer o mundo.

 

As ideias do efêmero da existência, da inutilidade de lutar pela felicidade na Terra, da passividade e indiferença, correspondem, por completo, aos interesses das classes exploradoras, pois afastam as massas trabalhadoras da luta revolucionária.

 

É o ateísmo que se opõe à religião. Na base do ateísmo encontra-se a negação de qualquer força sobrenatural ou divina, refutando os dogmas religiosos.

 

Os ateístas do passado, ao lutarem contra a religião, consideravam a instrução dos homens como a sua tarefa primordial, considerando que as raízes da religião estavam na ignorância.

 

2.2.6.3 A questão fundamental da filosofia

 

O materialismo e o idealismo, a linha de Demócrito e a de Platão, são duas correntes contrárias, dois campos inconciliáveis em filosofia.

 

A linha divisória entre os dois é o seu diferente modo de resolver o problema da relação entre a matéria e a consciência.

 

O princípio essencial do materialismo é o reconhecimento de que o fator primário é a matéria. A consciência é o fator secundário. O ser determina a consciência, dizem os materialistas baseando-se na experiência social e nas ciências naturais.

 

Inversamente, o princípio essencial do idealismo é a afirmação de que o fator primário é a consciência. A matéria, o ser, é o fator secundário.

 

Pela extraordinária importância que tem para determinar as posições filosóficas, o problema da relação entre a matéria e a consciência foi qualificado como a questão fundamental da filosofia. Da resposta que se lhe dê, depende também a solução das outras questões relativas à concepção do mundo.

 

Se se aceita o primado da matéria e a sua independência em relação à consciência, reconhece-se, implicitamente, que o movimento, o espaço e o tempo são formas objetivas da existência da matéria.

 

Se se considera que a matéria é o secundário, que deriva da consciência, então, há de se considerar o movimento, o espaço e o tempo como formas da consciência, do espírito.

 

Consideremos a questão das leis científicas: a solução materialista da questão fundamental da filosofia leva, diretamente, a reconhecer a objetividade dessas leis.

 

A solução idealista obriga a vê-las como uma manifestação da razão universal, ou como o fruto da atividade da consciência humana.

 

Não há problema filosófico cuja solução não dependa da maneira como é resolvida a questão fundamental da filosofia.

 

A questão fundamental da filosofia tem um segundo aspecto: I - Qual é a relação da consciência humana com o mundo exterior? II - Pode-se conhecer o mundo?

 

A resposta revela também o antagonismo entre o materialismo e o idealismo. Os materialistas afirmam categoricamente: Sim, pode-se conhecer.

 

Entre os idealistas, não há um critério unânime. A maioria deles, inclusive os filósofos burgueses de hoje, negam a cognoscibilidade do mundo, apregoando, de fato, a impotência da razão humana.

 

Outros, sem negar as possibilidades do conhecimento, não admitem que este seja o reflexo da matéria no cérebro pensante do homem. Em sua opinião, o conhecimento é a comunhão com o mundo das ideias puras, a intuição da atividade da ideia absoluta, da consciência universal. Esta interpretação do conhecimento não aponta para a investigação das leis objetivas da natureza e da sociedade.

 

Procurando esquivar-se à questão fundamental da filosofia, alguns filósofos afirmam não serem materialistas, nem idealistas e terem-se elevado acima dos antagonismos entre as duas tendências fundamentais em filosofia.

 

Mas não é possível evitar a resposta a esta questão da relação entre o ser e a consciência. E não é por acaso que os filósofos que pretendem superar a unilateralidade do materialismo e do idealismo preconizam, na prática, o mais puro idealismo. Começam por dizer que a questão fundamental da filosofia carece de sentido e que a missão desta ciência é analisar “as informações sensoriais”. Depois, torna-se claro que por “informações sensoriais” se entende as sensações e percepções que aparecem como a única realidade. Portanto, a questão fundamental resolve-se a favor do idealismo, pois as sensações e percepções se tomam como o fator primário em relação à realidade material.

 

O materialismo e o idealismo estão ligados aos interesses de determinadas classes:

 

O materialismo baseia-se na ciência e reflete os interesses das classes avançadas e progressistas da sociedade.

 

O idealismo está ligado à religião e, objetivamente, defende os interesses das classes conservadoras e reacionárias.

 

Seria, pois, incorrer no simplismo pensar que todos os idealistas e crentes defendem, conscientemente, os interesses da reação. Há, entre os idealistas, pessoas que mantêm posições progressistas em muitos domínios da vida política e social. Muitos filósofos idealistas e crentes lutam, ativamente, pela paz. O que se trata aqui é que, pela sua própria essência, as doutrinas idealistas, quer queiram ou não os seus adeptos, servem os interesses das classes reacionárias.

 

Entre o materialismo e o idealismo trava-se uma dura e implacável batalha pela mente das pessoas. À primeira vista, pode parecer que esta luta, no domínio das categorias filosóficas abstratas, tem uma relação bastante distante com as questões econômicas, políticas e com a luta de classes que arde na sociedade, mas isto é apenas aparente. Cada uma destas duas tendências principais forma, nas pessoas, uma determinada concepção do mundo, um modo de pensar. Disso depende a compreensão do sentido da situação corrente, das tarefas políticas.

 

O problema da relação entre o ser e a consciência é essencial, não só porque da maneira de resolvê-lo dependem outras questões filosóficas, mas ainda por outra razão. Na solução da questão fundamental da filosofia torna-se evidente o partidarismo da teoria filosófica, a sua ligação com a luta de classes da sociedade, com a política.

 

A classe operária que se encontra na vanguarda da humanidade progressista, está interessada no conhecimento científico das leis da realidade porque isso é preciso para reorganizar o mundo. Por isso, no caso que nos ocupa, os interesses de classe não impedem o conhecimento objetivo do mundo, pelo contrário, contribuem para ele.

 

Não acontece o mesmo com o partidarismo burguês que, na verdade, impede uma apreciação científica e objetiva do conhecimento do mundo, pois esta implica no desaparecimento necessário, inevitável do capitalismo. 

 

BIBLIOGRAFIA: CHAKHNAZÁROV, G. e KRÁSSINE, Lú. Fundamentos do Marxismo-Leninismo. Moscou: Edições Progresso, 1985. IOVCHUK, M. T; OIZERMAN, T. I. e SHCHIPANOV, I. V. História da filosofia. Venda Nova: Novo Curso Editores, 1981.

 

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